Folha de S. Paulo


Pessimismo com Brasil é exagerado, na avaliação de diretor do FMI

O diretor executivo para o Brasil e mais 10 países no FMI (Fundo Monetário Internacional), Paulo Nogueira Batista, classificou de "exagerada" a capa da revista britânica "The Economist", que mostra o Cristo Redentor, símbolo do Brasil no exterior, caindo. Assim como também considerou exagerada a capa em 2009, com o Cristo subindo como um foguete.

"Havia um certo exagero naquela época, e, agora, com uma reavaliação mais negativa, está indo para o extremo oposto. De fato o Brasil está crescendo menos do que o esperado, menos do que pode crescer, mas acho que já começou uma recuperação", afirmou após palestra no seminário promovido pelo Minds (Multidisciplinary Institute on Development and Strategies) e a Ford Foundation.

Ele avaliou que a imprensa estrangeira se baseia muito no mercado financeiro dos países para classificar se o país está indo bem ou mal.

MENSALÃO, CORRUPÇÃO, VIOLÊNCIA

"No caso do Brasil, mensalão, corrupção, violência urbana, desigualdade social, isso não recebe atenção. O que interessa é que os mercados financeiros dominam a imprensa e estávamos vindo bem nesse ponto de vista. Agora nós vimos que o desempenho econômico não era tão bom quanto se esperava, e há essa reação", explicou.

Batista ressaltou que não estava participando do seminário como representante do FMI, e que as avaliações feitas por ele eram pessoais.

Segundo o diretor, a situação do Brasil hoje é "razoável", e junto com outros países emergentes ainda é o que vem garantindo investimentos no mundo.

"O Brasil foi o quarto maior receptor de investimentos diretos no ano passado, o investimento direto estrangeiro continua significativo, forte. O investimento de curto prazo, mais especulativo, é que ficou ao sabor das conjunturas", explicou.

Ele descartou a teoria que vem tomando conta de algumas previsões econômicas, de que a crise estaria voltando para os países emergentes. Segundo ele, a situação hoje é bem diferente das crises passadas, com reservas mais altas nesses países, um regime de câmbio flexível, e com fundamentos fiscais mais fortes. No caso do Brasil, ele acrescentou que a dívida líquida vem caindo e a proporção da dívida indexada à moeda estrangeira é muito menor do que foi no passado.

"Se você olhar os números, o crescimento continua sendo liderado pelo países em desenvolvimento", avaliou.

CRESCIMENTO

"Houve desacelaração? Sim. Alguma recuperação dos avançados? Sim. Mas ainda o grosso do crescimento que está ocorrendo e é previsto virá ainda das economias emergentes", afirmou.
Ele lembrou que a desacelaração da economia em 2011 no Brasil foi proposital, para evitar o super aquecimento do mercado, mas que a surpresa foi a dificuldade de voltar a se recuperar em 2012.

"Nesse momento a gente está vendo uma recuperação mais clara, os dados estão mostrando que a economia está se reativando. O mercado de trabalho (divulgado hoje) foi uma surpresa positiva nesse período todo", explicou.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou hoje a taxa desemprego de agosto, de 5,3%, a menor do ano.

MISSÃO

Batista informou ainda que em outubro uma missão do Ministério da Fazenda irá ao FMI, em Washington, conversar mais uma vez sobre as divergências em relação ao cálculo da dívida do país.

"Há anos o Brasil vem explicando para o fundo monetário porque mudou a forma de mensurar a dívida pública. Na verdade, o Brasil mantém a divulgação da série tradicional e tem uma série nova, que o Brasil divulga há vários anos. E o fundo não muda, não tem dado suficiente atenção, na avaliação das autoridades brasileiras", disse o diretor.

Já a nova divergência surgida com o relatório anual do FMI divulgado em agosto, no qual o Brasil pediu alterações por não concordar com alguns itens foi minimizada por Batista.

Sem poder explicar o ponto central da discórdia, ele informou que os países têm o direito de pedir correções no texto ao fundo se houver erros factuais; se houver distorção na apresentação dos pontos de vista das autoridades; se houver passagens consideradas ambíguas na redação; ou se houver passagens que podem ser consideradas sensíveis ao mercado financeiro.

"O Brasil invocou pontos específicos em todas essas regras, menos na distorção do ponto de vista das autoridades, mas o staff do fundo está demorando muito para responder", disse Batista, prevendo uma resposta para "breve".


Endereço da página:

Links no texto: