Folha de S. Paulo


Maior descoberta já feita no Brasil, campo de Libra intimida petroleiras nacionais

O maior leilão de um campo de petróleo do mundo, da maior descoberta já feita no Brasil, o campo de Libra, na bacia de Santos, ficou para os estrangeiros, com exceção da Petrobras, que terá obrigatoriamente 30% no consórcio vencedor e pode, inclusive, aumentar essa fatia.

Empresas brasileiras que pensavam em se inscrever ficaram de fora, como Barra Energia e QGEP (Queiroz Galvão Exploração e Produção). Oficialmente, ninguém comenta o motivo da desistência.

Nos bastidores, a justificativa principal é o receio pelo tamanho do projeto, que vai envolver até 17 plataformas, além de sondas, barcos de apoio, centenas de empregados, e que só deve entrar em operação, ou seja, gerar receita, daqui a no mínimo seis anos.

"O projeto de Libra é diferenciado, intensivo em capital, exige investimentos elevadíssimos pelos próximos 20 anos. O fato de ser um único campo gigante deve ter influenciado na atratividade", explica o presidente do IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo), João Carlos de Luca, também presidente da Barra Energia.

Editoria de Arte/Folhapress

"Se também houvesse campos menores sendo ofertados, poderia aumentar o número de empresas participantes", acrescentou o executivo, ressaltando que o grupo de empresas que pode participar do desenvolvimento de campos gigantes é seleto.

As empresas menores terão que esperar entre dois e três anos para ter novamente essa oportunidade, segundo o diretor da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Hélder Queiroz, que em entrevista recente explicou que o próximo leilão terá áreas menores no pré-sal.

A expectativa é de que isso só ocorra a partir de 2015.

Para o primeiro leilão, previsto para 21 de outubro, a ANP entregou ao CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) um leque de áreas que somavam um potencial de reservas de 40 bilhões de barris de petróleo.

A escolha de Libra, com reservas recuperáveis (uma etapa antes da comprovação) entre 8 e 12 bilhões de barris de petróleo, deveu-se ao potencial de arrecadação imediata de um bônus de R$ 15 bilhões, que terá de ser pago em novembro e ajudará o governo a atingir a meta de economia para o pagamento dos juros da dívida - superavit primário-- deste ano.

Além disso, Libra está colado ao campo de Franco, onde a Petrobras já faz exploração. Com a experiência adquirida, a exploração de Libra será facilitada, avaliam especialistas.

RISCO GRANDE

A ausência de outras brasileiras por problemas financeiros, como a HRT e da OGX, já era esperada. Apesar da HRT ter participado de audiências públicas e do seminário técnico-ambiental de Libra, a empresa admitiu à Folha que seria um risco muito grande.

"Tendo analisado os prazos envolvidos e as dimensões dos investimentos esperados, a empresa avaliou que se trata de um ativo para as grandes companhias do petróleo mundial, que disponham de recursos financeiros adequados para assumir os riscos de um projeto desta complexidade e envergadura", explicou a HRT.

Com problemas financeiros e sob risco de enfrentar uma recuperação judicial, a OGX, do empresário Eike Batista, nunca declarou muito interesse no pré-sal de Santos.

Mesmo na época das "vacas gordas", Eike nunca demonstrou cobiça pelas gigantescas reservas. O empresário alardeou em janeiro do ano passado que havia encontrado petróleo abaixo da camada de sal em águas rasas da bacia de Santos, no bloco BM-S-57.

A exploração em águas rasas é menos dispendiosa do que nas profundas reservas encontradas pela Petrobras, o que animou Eike na época. Mas, no site da empresa, não há nenhuma referência atualizada sobre o ativo, e nem consta no mapa de blocos da OGX na bacia de Santos.

Segundo fontes da indústria, agora que está endividado e correndo contra o tempo para salvar suas outras empresas, Eike estaria tentando se desfazer de todas suas posições no pré-sal, inclusive no bloco BM-S-4, no pré-sal da mesma bacia, que adquiriu no final do ano passado.

O empresário comprou em novembro de 2012 a fatia de 40% que a Petrobras tinha no bloco, por US$ 270 milhões. As sócias Barra Energia e Queiroz Galvão tÊm o direito de preferência, mas não quiseram comentar o assunto.


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