Folha de S. Paulo


Banco Central quer usar 'janela favorável' para conter avanço da inflação

Apesar do recuo da inflação em junho e julho, comemorado publicamente pelo Palácio do Planalto, a palavra-chave dentro do Banco Central é vigilância.

A orientação interna é que "não dá para vacilar" e considerar que a batalha contra a alta de preços está vencida.

A avaliação do governo é que há um período favorável para fazer os índices inflacionários recuarem entre agosto deste ano e abril do ano que vem e que o BC precisa aproveitá-lo para remover a inflação do cenário de preocupação da economia.

A janela favorável para queda da inflação vem da redução do preço dos alimentos esperado neste segundo semestre e do ritmo mais moderado da economia.

Além disso, o governo conta com o efeito estatístico que permitirá substituir taxas mais elevadas registradas em 2012 por valores mais baixos.

Apesar disso, a ordem é seguir com uma política monetária austera que garanta uma queda contínua da inflação no segundo semestre deste ano e o início de 2014.

Em sua última reunião, no início de julho, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a taxa de juros para 8,5% e sinalizou que manterá o aperto monetário até recuperar a confiança de empresários e consumidores na economia do país.

O BC considera crucial que a inflação feche este ano abaixo da do ano passado, quando bateu em 5,84%. E que fique na casa de 5% no próximo ano, quando haverá eleição presidencial.

Em junho passado, o índice mensal foi baixo, de 0,38%, mas a taxa acumulada em 12 meses estourou o teto da meta (6,5%), ficando em 6,7%.

A prévia de julho indicou um recuo maior, ficando em 0,07% -o que animou a equipe econômica com a possibilidade de o índice fechar o ano mais próximo de 5,5% e iniciar o próximo com inflação ainda menor.

CÂMBIO

O que mais preocupa daqui para a frente é a volatilidade da taxa de câmbio. A recente alta na cotação do dólar foi repassada para os preços no atacado, mas ainda não chegou ao varejo.

O problema é que não há como garantir que esse repasse não ocorrerá. Segundo técnicos, seria um erro avaliar que a diminuição das pressões inflacionárias nos últimos meses significa que a alta do dólar não terá impacto negativo na economia.

A orientação é esperar agosto e setembro para ter uma avaliação mais precisa de quanto da valorização da moeda americana poderá ser repassada de fato aos preços e em quanto esse processo pode ser contido pela desaceleração da economia.

Dentro do governo, já se fala na possibilidade de o crescimento neste ano ficar entre 2% e 2,5%. Se por um lado é uma notícia ruim, por outro, destacam técnicos, vai contribuir para manter a inflação em queda.

Neste momento, o Palácio do Planalto considera que o mais importante é seguir no combate à inflação, deixando para o próximo ano um crescimento mais elevado. Afinal, a oposição já mostrou que vai explorar o descontrole inflacionário durante a campanha eleitoral do ano que vem.


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