Folha de S. Paulo


Shopping valoriza bairro do entorno em 46%, diz associação do setor

A construção de um shopping tem impactos importantes para o seu entorno e pode valorizar significativamente os imóveis da região. Segundo pesquisa encomendada pela Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), entre 2007 e 2011, a valorização de imóveis próximos a novos centros comerciais foi 46% superior ao restante da cidade, acompanhada de um aumento de 82% na arrecadação do IPTU pelos municípios.

Os dados foram levantados pela empresa Grupo de Estudos Urbanos, especializada nesse setor, em 20 municípios entre 90 mil e 1 milhão de habitantes.

Nos últimos cinco anos, 94 shoppings foram inaugurados no país -31 foram os primeiros em suas cidades.

Fazem parte do levantamento os municípios paulistas de Caraguatatuba, Cotia, Diadema, Hortolândia, São Vicente, Paulínia e Valinhos.

De acordo com dados da Abrasce, São Paulo é o Estado com maior número de shoppings no país: são 155 em operação. Apenas Roraima não conta com nenhum shopping, entre os Estados brasileiros.

No entanto, segundo especialistas, a valorização é relativa e não se aplica a todos os casos. A valorização da área depende de outros aspectos, como, por exemplo, a localização do empreendimento e a forma com que o trânsito no entorno dos shoppings é manejado.

"O dado da valorização depende de onde o shopping está, de uma estratégia de território. Em alguns casos pode até desvalorizar, quando tiver um lugar estritamente residencial, por exemplo, em cidades pequenas, em que a população não quer esse movimento de veículos e de pessoas", explica Margareth Matiko Uemura, arquiteta e urbanista do Instituto Polis.

O diretor do departamento de urbanismo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, Kazuo Nakano, aponta que, no geral, o empreendimento gera valorização para alguns setores e para outros não. "Quando [o shopping] começa a gerar muito tráfego nas ruas do entrono, essas ruas passam a ser mais desvalorizadas para moradia, mas para comércio passam a ser mais valorizadas", explica.

Segundo Nakano, em cidades com maior número de centros comerciais, como é o caso de São Paulo, os impactos se diluem um pouco se comparados a cidades menores, como as apontadas no estudo.

As modificações no trânsito são outro aspecto que, segundo especialistas ouvidos pela Folha, demandam cuidado e planejamento, uma vez que os shoppings são considerados polos geradores de tráfego.

Uemura aponta a necessidade de que ocorram obras para o aumento na capacidade das vias no entorno, adequação da sinalização e alargamento das ruas próximas aos centros comerciais. Essas obras são exigidas pela prefeitura e devem ser executadas pelos empreendimentos.

"Se o shopping center leva todas essas vantagens para uma determinada cidade, você tinha que ser recebido com tapete vermelho", critica o presidente da Abrasce, Luiz Fernando Veiga. "Isso [contrapartidas exigidas pelas prefeituras] existe, é fato consumado, a gente tem que fazer e faz. Agora, não é correto."

O consultor adjunto da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), Mauro Peixoto, aponta para a importância de integrar os shoppings com o transporte público. Segundo ele, os centros comerciais integrados ao sistema de trilhos e ao transporte público são uma tendência que deve ser observada.

Para Uemura, em qualquer cidade um shopping sem ordenamento territorial é um problema.

"A discussão do planejamento é a base de tudo. Um shopping ou qualquer equipamento urbano não é positivo ou negativo em si. Ele é mais um serviço que vai entrar na cidade, e a cidade tem que ter planejamento para isso."


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