Folha de S. Paulo


Mais grifes de luxo são alvo de investigação

Para os fiscais que atuaram no resgaste dos profissionais em oficinas de costura, o que chama atenção é que o trabalho degradante se espalha entre empresas que ocupam espaço no mercado de luxo, e não se concentra apenas nas lojas de "fast fashion" e grande redes de departamento.

No Brasil, além da Le Lis Blanc, três grifes de luxo já estão na mira de auditores e procuradores do Trabalho. Os nomes são mantidos sob sigilo para não atrapalhar as investigações.

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Neste ano, outras duas firmaram termo de ajustamento de conduta com o Ministério do Trabalho, Ministério Público do Trabalho para adequar sua produção.

O uso de mão de obra degradante não é privilégio do Brasil. Recentemente um grupo de grifes estrangeiras admitiu contratar trabalhadores em situação irregular em Bangladesh para terceirizar a produção e cortar custos.

INTERDIÇÃO

As oficinas fiscalizadas em junho foram interditadas por falta de segurança nas máquinas de costura (falta de protetores pode causar riscos de acidente de trabalho), ausência de extintores e risco de incêndio nas fiações aparentes.

Na estimativa da fiscalização, existem entre 8.000 e 10 mil oficinas na região da Grande São Paulo empregando cerca de 80 mil a 100 mil trabalhadores de países sul-americanos nas mesmas condições irregulares constatadas na ação fiscal de junho.

Segundo a Secretaria Municipal de Direitos Humanos de São Paulo, entre 100 mil e 200 mil bolivianos vivem na capital paulista, sendo somente 60 mil legalizados.

VIOLÊNCIA

Além das condições de trabalho, os fiscais dizem que as famílias que trabalham nas oficinas estão submetidas a riscos de violência.

"Elas são alvos fáceis de criminosos e ladrões. Os migrantes têm grandes dificuldades em abrir conta nos bancos e optam por manter o dinheiro guardado no próprio local de trabalho, por exemplo", diz Renato Bignami, coordenador do Programa de Erradicação do Trabalho Escravo em São Paulo.

"Já nos deparamos com situações de violência em virtude dessa dificuldade adicional nos próprios resgates", afirma o auditor.

Dez dias após a fiscalização feita em oficinas de costura da cidade de São Paulo, o menino boliviano Brayan Yanarico Capcha, 5, foi morto com um tiro na cabeça em um assalto à casa da família, em São Mateus, na zona leste da capital.

A família dele foi assaltada quatro vezes nos seis meses no Brasil, segundo mostrou reportagem da Folha.

Não há estatísticas da Secretaria de Segurança Pública sobre assaltos à comunidade boliviana. Muitos trabalhadores estão irregulares no país e temem registrar queixa.


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