Folha de S. Paulo


Bancos públicos já preveem PIB abaixo de 2% neste ano

Em um cenário de desaceleração da economia --reforçado ontem pelo Banco Central, que apontou retração da atividade em maio-- e com a perspectiva de que os dados de junho mostrarão impacto negativo das manifestações no país, bancos oficiais já trabalham com uma perspectiva de crescimento abaixo de 2% neste ano.

O dado não é divulgado oficialmente, mas a Folha apurou que ele está sendo incorporado nos modelos de análise de risco usados para a concessão de grandes operações de crédito.

O número é importante para avaliar a capacidade de geração de fluxo de caixa em determinados setores tomadores de empréstimos.

O indicador de atividade do Banco Central (IBC-Br) apontou recuo na economia de 1,4% em maio em relação a abril, abaixo do esperado pelo mercado financeiro e o pior resultado desde 2008.

No período acumulado de 12 meses, o crescimento medido pelo índice do Banco Central é de apenas 1,89%.

Para Mauro Rochlin, professor de economia do Ibmec, o dado deixa claro que, "de fato, a economia brasileira está com taxas muito próximas de uma estagnação".

MANIFESTAÇÕES

Apesar disso, o resultado não foi considerado surpreendente dentro do governo. A equipe econômica já esperava um número ruim. A maior preocupação atualmente é com o resultado de junho, que deverá mostrar o impacto das manifestações por todo o país na economia.

O ministro Guido Mantega (Fazenda) foi alertado pelos varejistas para o fato de que as vendas na segunda quinzena de junho foram muito afetadas pelas manifestações, que provocaram o fechamento do comércio em várias partes do país. Mas os técnicos do governo ainda tentam mapear o tamanho do estrago.

O receio é que, se concretizado um impacto maior em junho, o PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre do ano será ruim. E, com isso, a recuperação da economia na segunda metade do ano poderá não ser tão boa como espera o governo, afetando diretamente o ânimo dos empresários, principalmente para investir.

A recuperação dos investimentos é a aposta da equipe econômica para sustentar o crescimento neste ano e em 2014, quando a presidente Dilma tentará se reeleger.

Ontem, Mantega se reuniu com empresários e investidores para ouvir as inquietações e tentar convencê-los a não abandonar a agenda investimentos.
Para Rochlin, porém, sem crescimento, isso não será tarefa fácil. "Tivemos um crescimento mais alto em abril e queda em maio, essa trajetória errática confunde. Não há uma estabilidade dos índices e isso retrai investidores."

Segundo ele, "é consagrado" o papel das expectativas para retomada de investimento.

"O governo não tem sido capaz de despertar o espírito animal nos empresários. Os passos que ele toma não trazem segurança."


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