Folha de S. Paulo


Queda no nível da atividade econômica não surpreende governo

A queda no nível de atividade econômica em maio, captada pelo indicador do Banco Central que tenta antecipar o desempenho da economia (IBC-Br), não foi considerada surpreendente dentro do governo.

Apesar do recuo de 1,4% ter sido maior do que as expectativas, a equipe econômica já esperava um número ruim.

Segundo a Folha apurou, a maior preocupação está no resultado de junho, que deverá mostrar o impacto das manifestações por todo o país na economia.

Economia brasileira recua 1,4% em maio, maior queda desde 2008, diz BC

O ministro Guido Mantega (Fazenda) já foi alertado pelos varejistas de que as vendas na segunda quinzena de junho foram muito afetadas pelas manifestações, que provocaram o fechamento do comércio em várias partes do país.

Mas os técnicos do governo ainda tentam mapear o tamanho do estrago. O receio é que se for concretizado um impacto maior em junho, o PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre do ano será ruim.

E, com isso, a recuperação da economia poderá não ser tão boa como espera o governo, afetando diretamente o ânimo dos empresários para investir.

A recuperação dos investimentos é a aposta da equipe econômica para sustentar o crescimento econômico neste ano e em 2014, quando a presidente Dilma Rousseff tentará se reeleger.

Hoje o ministro Guido Mantega se reúne com empresários e investidores para ouvir as inquietações e tentar convencê-los a não abandonar a agenda de investimentos.

ESTAGNAÇÃO

Para Mauro Rochlin, professor de economia do Ibmec, o número do IBC-Br de maio deixa claro que, "de fato, a economia brasileira está com taxas muito próximas de uma estagnação".

Segundo ele, isso é consequência do fim do modelo de crescimento econômico baseado no consumo, já que, no outro lado, o governo não tem conseguido turbinar os investimentos públicos e privados.

"Tivemos um crescimento mais alto em abril e queda em maio, essa trajetória errática confunde. Não há uma estabilidade dos índices e isso retrai investimentos", diz.

Segundo ele, "é consagrado" o papel das expectativas para retomada de investimento. "O governo não tem sido capaz de despertar o espírito animal nos empresários. Os passos que ele toma não trazem segurança".

Para o professor, a agenda de concessões, fundamental para o governo estimular os investimentos, ficou prejudicada "pelas idas e vindas na definição de marcos regulatórios em áreas como portos e aeroportos".

Para piorar, ele acredita que a resposta às manifestações de ruas que ocorreram recentemente também gera insegurança para os empresários. "Houve recuo nos reajustes e isso do ponto de vista empresarial é quebra de contrato e não estimula mais investimentos", afirma.


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