Tudo parecia ir bem nos idos de 2007. A um mês da nona rodada de licitações de áreas de petróleo, o empresário Eike Batista havia contratado para a sua recém-criada OGX três executivos importantes para ajudá-lo a atingir seu principal objetivo: os reservatórios gigantes do pré-sal da bacia de Santos.
O primeiro a chegar à empresa foi o ex-presidente da Petrobras e do BNDES Francisco Gros. Em seguida vieram o geólogo Paulo Mendonça e o gerente-executivo de exploração e produção Luís Reis, responsável pelos contratos da Petrobras.
Crise de Eike põe mais dúvida sobre o Brasil no exterior
Mendonça sabia mais do que qualquer um sobre pré-sal. Tinha acompanhado de perto, ainda na estatal, as primeiras descobertas na região.
Além disso, era uma das pessoas da cúpula da estatal com acesso a informações como os preços que a Petrobras pretendia pagar pelas cobiçadas áreas que seriam colocadas no leilão da ANP.
Eike tinha esperanças de que essas informações pudessem ser úteis para a OGX.
Ao todo, iriam à leilão 41 blocos ao redor do recém-descoberto campo de Tupi, rebatizado de Lula posteriormente e onde há pelo menos 8 bilhões de barris de petróleo.
Com o preço da commodity em ascensão, perspectiva de reservatórios contínuos -o que facilita a exploração- e um óleo de maior valor no mercado internacional, a compra dessas áreas era garantia de fortuna rápida, apostou o empresário.
Eike só não contava que, às vésperas do leilão, no dia 8 de novembro de 2007, uma reunião extraordinária do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) derrubasse seu sonho.
Na presença do presidente Lula, da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o então presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, explicou que, por estarem muito perto de Tupi, as áreas que iriam à leilão tinham grandes perspectivas de também possuir reservatórios gigantes.
A Folha apurou que Lula chegou a cogitar cancelar o leilão, no que foi desestimulado pelo então presidente da ANP, Haroldo Lima.
Lima argumentou que um cancelamento às vésperas teria imensa repercussão negativa com os investidores.
A solução encontrada foi retirar do leilão as 41 áreas, consideradas o "filé mignon".
As informações de Mendonça que Eike esperava usar já não valiam mais nada.
Restou a ele prosseguir na montagem da OGX, mas sem aquilo que considerava sua mina de ouro garantida.
As apostas da empresa se voltaram então para o campo de Tubarão Azul, mas as expectativas não se concretizaram e na semana passada a OGX anunciou sua desistência de explorar ar a área.
Mendonça foi demitido em junho de 2012. Foi o início do desmonte do sonho de Eike de ter sua própria Petrobras.