Folha de S. Paulo


Plutocratas são os modernos 'barões ladrões', diz jornalista

Eles são como uma nação: têm casas em várias metrópoles, frequentam os melhores restaurantes, vão a shows e festivais de cinema, participam de fóruns empresariais, assistem a torneios de tênis, possuem uma fundação filantrópica.

E viajam toda a semana. Entram em jatinhos para traçar o planeta com a mesma facilidade com que a classe média abre a porta do carro. "Conhecemos melhor as aeromoças do que nossas mulheres", definiu um deles.

Fazem lobby e nutrem fortes vínculos com governos e políticos. Contratam os melhores advogados, dentistas, médicos, chefs de cozinha, cantores. É um universo do masculino. Quanto mais alto se está, mais patriarcal é a vida familiar. Aqui ainda vigora a era de "Mad Men".

Assim são os muito-muito-muito ricos descritos pela jornalista canadense Chrystia Freeland em "Plutocrats, the Rise of the New Global Super-Rich and the Fall of Everyone Else" (Plutocratas, a ascensão dos novos superricos globais e a queda de todos os outros, ed. Penguin Press).

Freeland mostra como o modelo de desregulamentação financeira, privatização e concentração de renda forjou e reforçou esse grupo dos megarricos. E recheia o livro com estatísticas.
Exemplo: em 1980, nos Estados Unidos, o ganho médio de um presidente de empresa era 42 vezes maior do que o de um trabalhador. Em 2012 essa diferença saltou para 380 vezes. Um verdadeiro plutocrata ganha ao menos US$ 10 milhões por ano.

Paulo Whitaker - 15.ago.2012/Reuters
Aeronaves expostas no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, durante feira latino-americana de jatos executivos
Aeronaves expostas no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, durante feira latino-americana de jatos executivos

Os ultrarricos fazem fortunas nas finanças, no setor de alta tecnologia ou se beneficiaram de processos de privatização do patrimônio público como no caso dos oligarcas russos ou do mexicano Carlos Slim. Geram empregos fora de seus países, buscando mão de obra barata na Ásia ou na América Latina.

Eles diferem dos magnatas que inspiraram Scott Fitzgerald no início do século 20. Se naquela época os bilionários já nasciam com fortunas, herdando impérios nas áreas de transporte, aço e petróleo, hoje eles são "ricos que trabalham", aponta a jornalista. Mesmo assim, ela diz que "os plutocratas de hoje são os modernos barões ladrões, beneficiados por uma era de extrema mudança econômica".

BRASILEIROS

O Brasil aparece em três passagens. Na primeira, há uma breve citação sobre o não aumento de concentração de renda, "provavelmente porque a desigualdade já seja tão grande", constata.

Mais adiante, há dois parágrafos com Eike Batista. Segundo o empresário, "70% dos 10% mais ricos fizeram o seu dinheiro nos últimos dez anos". Para a jornalista, "Batista é um desses arrivistas e a velha guarda não gosta dele". Já o norte-americano David Neeleman, da companhia aérea Azul, fala das vantagens em relação aos EUA: "Estamos crescendo 25% ao ano", declara.

Freeland dedica algumas páginas para as estrelas na música e no cinema. Cita casos de Lady Gaga, Leonardo Di Caprio, Justin Bieber e seus astronômicos cachês. Mas, sem surpresa, ela observa que "os maiores vencedores são os banqueiros". O livro arranha a discussão da necessidade de maior regulação das finanças e, às vezes, adota uma abordagem ingênua e maniqueísta. Fala um pouco de como esse grupo escapa dos impostos, mas passa ao largo dos paraísos fiscais.

Da leitura se sai com vontade de saber mais sobre o cotidiano verdadeiro desses ricaços, que, certamente, sabem se preservar. De qualquer forma, detectando tendências, coletando números e expondo análises, a obra de Freeland ajuda a defini-los.

Plutocrats - the rise of the new global super-rich and the fall of everyone else
AUTORA Chrystia Freeland
EDITORA Penguin Press
QUANTO US$ 17,00 (R$ 36,55, 352 págs.)
AVALIAÇÃO bom


Endereço da página: