Os índios que ocupam o canteiro da obra de construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, em Vitória do Xingu (PA), aguardam um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para desocupar o local.
A invasão ao canteiro entrou no oitavo dia nesta segunda-feira (3).
A aeronave da FAB deve pousar em Altamira (a 50 km do canteiro) e transportar de 140 a 200 índios, sendo a maioria da etnia mundurucu, para uma reunião com ministros na terça-feira (4), em Brasília.
O transporte dos índios à capital federal foi uma proposta da Secretaria-Geral da Presidência da República para a desocupação pacífica da obra. Os índios ameaçavam atear fogo nos escritórios e nas instalações do canteiro Belo Monte, onde trabalham 7.000 operários.
Os índios exigiam a presença do ministro Gilberto Carvalho em Belo Monte para negociar um a um os itens da pauta de reivindicações. Desde 2011, a etnia não aceita estudos para construção de hidrelétricas nos rios Teles Pires e Tapajós, entre os Estados de Mato Grosso e Pará --última fronteira de rica biodiversidade e minérios da região.
Lunae Parracho - 30.mai.13/Reuters | ||
Índios bloqueiam principal canteiro de obras da usina de Belo Monte, no Pará |
NEGOCIAÇÃO
A nova invasão de Belo Monte começou no dia 27. O ministro Carvalho não aceitou negociar sem a desocupação da obra. O Planalto enviou ao canteiro Nilton Tubino, coordenador-geral de Movimentos do Campo e Territórios da Secretaria-Geral.
Ele assumiu o compromisso de levar os índios para Brasília em avião da FAB. Em troca, os índios desbloquearam as saídas da obra e desistiram de incendiar as instalações. Desde sábado, a construção da hidrelétrica retornou ao normal.
Em entrevista, Tubino afirmou que o processo de negociação com os índios foi positivo. "Não precisou cumprir a ação de reintegração de posse, que previa o uso de força policial. A preocupação nossa agora é conseguir uma aeronave da FAB para levá-los a Brasília", afirmou.
ENCONTRO COM MINISTROS
A pedido dos índios, a reunião com os ministro Gilberto Carvalho, Edison Lobão (Energia) e José Eduardo Cardozo (Justiça) será acompanhada pelos advogados da etnia, de representantes do Ministério Público Federal do Pará e da ABA (Associação Brasileira de Antropologia).
Até a manhã de terça-feira (4), os índios permanecerão alojados em dois escritórios do canteiro Belo Monte, em Vitória do Xingu. Depois, serão transportados em ônibus para o aeroporto de Altamira.
Um dos líderes do protesto, Cândido Munduruku afirmou à Folha que o grupo que que vai viajar inclui mulheres, crianças e adolescentes.
"Somos mais de 200 pessoas. Vamos para Brasília discutir nossa pauta: paralisação das obras, demarcação das terras e impunidade na morte do Adenilson Munduruku", disse. O índio Adenilson morreu num conflito com policiais federais durante uma operação de combate à extração ilegal de outro na aldeia Teles Pires, em 2012.
A viagem dos índios a Brasília foi criticada neste domingo pelo Movimento Xingu Vivo Para Sempre, que apoia o protesto dos índios mundurucu.
"Essa viagem é uma grande intransigência do governo, que não parou um minuto para avaliar os erros que têm feito como as mortes dos índios", afirmou Antônia Melo, coordenadora do movimento.