Folha de S. Paulo


Cortes geram rumor sobre falsa venda da Livraria Cultura

Nas últimas semanas, a imagem da Livraria Cultura tem sido arranhada nas redes sociais. A empresa é acusada de censura por ex-funcionários demitidos depois de se manifestarem, por meio do correio eletrônico interno, contra a atual gestão.

Reclamam de demissões em massa, baixos salários, jornadas exaustivas e cobranças por resultados. As reclamações estão reunidas na página "Jeito Censura de Ser" no Facebook, que tinha 4.200 "likes" até a noite de ontem.

"Fico triste, não sei explicar isso. Mas é essa força que existe nas redes sociais", diz o presidente da Cultura, Sergio Herz, neto da fundadora, Eva Herz. "Não sei por que as pessoas têm esse viés tão negativo contra o desenvolvimento", acrescenta.

Em meio às críticas, surgiu até o boato de que a empresa teria sido vendida para o Itaú -fato negado pelas partes.

Fundada em 1947, a Cultura vive um momento de rápida expansão e busca por melhores resultados, em preparação para uma eventual abertura de capital na Bolsa.

Esse processo começou em 2009 e se intensificou no último ano, sobretudo depois que o fundo Capital Mezanino passou a deter 25% das ações. O restante está nas mãos da família Herz.

O fundo, da gestora Neo Investimentos, adquiriu debêntures conversíveis em ações em 2009 e as converteu em participação em dezembro passado. A confusão com o Itaú, avalia-se, acontece porque uma empresa do banco, a Intrag, presta serviço de administração para o fundo.

Desde a entrada do Mezanino, o número de funcionários mais que dobrou: saiu de 950, em 2008, para mais de 2.000. Já são 17 lojas no país e outras duas devem ser inauguradas até setembro, com a contratação de mais quase 200 funcionários.

No processo de expansão, a empresa passou a adotar algumas práticas que batem de frente com a cultura antiga da organização.

Para aumentar receitas, espaços nobres de exibição de livros, antes ocupados sob critérios culturais, passaram a ser comercializados.

Para cortar custos, no ano passado 40 vendedores, dentre os mais experientes, foram demitidos da unidade da av. Paulista. "Era uma turma muito antiga que tinha um salário desproporcional ao de mercado", explica Herz.

Em abril, outros 20 funcionários foram demitidos. Dessa vez o motivo foi as críticas enviadas para toda a empresa pelo correio interno.

"Quando surgiram as primeiras mensagens, coloquei-me à disposição e criei uma ouvidoria. Mas essas pessoas continuaram enviando mensagens gerais", diz Herz.

"Aí não teve jeito. Se elas não estavam felizes, não tinham por que continuar trabalhando na empresa."

A Folha tentou falar com a criadora da página no Facebook, uma funcionária de Curitiba, mas ela não respondeu à mensagem até a conclusão desta edição.

SINDICATO

Nesta sexta-feira, o Sindicato dos Comerciários de São Paulo informou que vai solicitar uma reunião com a empresa para esclarecer as denúncias dos funcionários demitidos. O sindicato informou também que representantes da entidade iriam visitar as unidades da livraria em São Paulo para conversar com trabalhadores.

O presidente do Sindicato, Ricardo Patah, diz que se ficar caracterizado que as demissões foram motivadas por perseguição ou constrangimento, o sindicato entrará com uma ação coletiva contra a empresa.


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