Folha de S. Paulo


Índios que invadiram Belo Monte rejeitam carta de ministro e mantêm protesto

Os cerca de 140 índios que mantêm invadida desde segunda-feira (27) a obra da usina hidrelétrica de Belo Monte (PA) se recusaram nesta quarta-feira (29) a receber uma carta enviada pelo ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) e resolveram permanecer no local.

O prazo dado pela Justiça para que os indígenas deixassem a área, sob pena de multa diária de R$ 50 mil aos índios e à Funai (Fundação Nacional do Índio) em caso de descumprimento, venceu às 16h desta quarta.

A chefe do escritório da Secretaria Geral da Presidência em Altamira, Cleide Souza, disse que os índios pediram primeiro para ver uma carta escrita de Carvalho, mas quando o documento chegou houve a recusa.

"Fizemos proposta de o ministro Gilberto Carvalho recebê-los [grupo de 20 índios], na próxima quinta-feira [4], no Palácio do Planalto, e eles se recusaram a receber [a carta]", disse Souza.

Uma das lideranças indígenas, Valdemir Munduruku, 33, disse que eles não quiseram ver a carta porque ela não trazia novidade com relação as demandas dos índios. "É a mesma coisa de sempre", disse.

Os índios reivindicam a suspensão de todos os estudos e construções de barragens no país que impactem terras indígenas e a regulamentação da consulta prévia a índios nesses casos.

Eles dizem que só deixam o local se o ministro Gilberto Carvalho ou a presidente Dilma Rousseff comparecer ao protesto.

Os manifestantes negaram ter tomado cinco ônibus usados para transportar trabalhadores da obra, como informou nesta terça (28) o CCBM (Consórcio Construtor de Belo Monte), responsável pela construção da usina.

"Isso é mentira da empresa. Se fosse para tomar ônibus, tínhamos tomado mais de cinco. O que ocorreu foi só um ônibus que chegou na porta e não deixamos passar, e ele ficou atravessado na porta do canteiro", afirmou Valdemir.

O CCBM também afirmou que os invasores haviam tomado "dezenas de rádio de comunicação das equipes de segurança".

"Pegamos os rádios porque o pessoal deixou lá nas cabines, mas depois eles cortaram a comunicação e nós os deixamos lá, não os danificamos", disse Valdemir.

A Funai informou que vai recorrer da decisão judicial "por entender que não é responsável pelos atos praticados pelos indígenas".


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