Folha de S. Paulo


Estaleiro ultrapassa papel em Aracruz, no Espírito Santo

O quebra-mar que se pode avistar desde a praia da Barra do Sahy, no litoral capixaba, sugere que a calmaria do pequeno distrito da cidade de Aracruz tende a mudar.

Trânsito e educação são desafios do presente em Aracruz, no Espírito Santo

A obra denuncia a chegada do estaleiro cingapuriano Jurong, um investimento de R$ 1 bilhão e que deve empregar 6.000 pessoas no auge da operação, em 2016. O contingente equivale a 7% da população da cidade, segundo o Censo de 2010.

Superada a especulação da mudança para o Norte do Rio de Janeiro, a fim de atender ao empresário Eike Batista, a construção avança e amplia expectativas de moradores e empresários de aproveitar oportunidades que surgirão.

Ramon Spinassé, sócio de um posto de gasolina, hotel e restaurante que fica perto da obra, constrói em cima do seu escritório um auditório para acomodar 80 pessoas. Pretende alugar o espaço para treinamentos do Jurong, da Fibria (antiga Aracruz Celulose) e seus fornecedores.

"Poderia ceder o espaço do restaurante, mas não é muito confortável", disse.

Ele diz que queria alugar caminhões para a construtora Carioca, contratada para fazer o quebra-mar do Jurong. Mas perdeu a concorrência.
"Forneço a gasolina", conta.

Aracruz entrou para o mapa da economia nacional devido ao crescimento da empresa que levava o seu nome, a Aracruz Celulose.

Maior empresa local -o que pode ser percebido pelas florestas de eucalipto a perder de vista- a companhia passou por dificuldades na crise de 2008 e foi vendida.

Segundo Antônio Modenesi, dono do restaurante Castanheira, que atende executivos e funcionários de alto padrão, a cidade sofreu junto com a Aracruz e ainda não se recuperou por completo.

"Tomara que o movimento melhore logo", diz.

Editoria de Arte/Folhapress

Segundo o presidente do Sindicato das Empresas Metalúrgicas e de Material Elétrico, Luis Alberto Carvalho, o interesse local de pegar a onda Jurong pôde ser medido no programa de desenvolvimento de fornecedores, promovido pelo estaleiro.

Segundo ele, mais de 300 pessoas de 100 empresas participaram do encontro, interessadas em fornecer de andaimes a transportes.

"Não é fácil ser fornecedor de uma empresa como o Jurong. Essas companhias tendem a fazer grandes contratos internacionais, para reduzir custos", afirmou. "[Nos navios] há exigência de conteúdo local, mas não na fase de instalação".

O estaleiro trará da Coreia do Sul estruturas pré-moldadas de galpões, onde funcionarão as oficinas. Uma das razões da importação, alega a empresa, é ganhar tempo.

A primeira encomenda a ser entregue pelo Jurong para a Petrobras é um navio de perfuração, empreendimento de cerca de US$ 800 milhões, em junho de 2015.

A obra do estaleiro só ficará pronta depois, em 2016.

Outros seis navios sonda deverão ser entregues até 2019 e ainda serão feitos módulos (partes) de duas plataformas de petróleo: P68 e P71.

O movimento no centro comunitário de Barra do Riacho -localidade mais populosa que fica ao lado de Barra do Sahy e de onde sairá grande parte dos trabalhadores do Jurong -, no fim da tarde do dia 23 de abril, mostra que a expectativa é também dos vizinhos da obra.

Vanderson Cordeiro, 24, trabalhou no almoxarifado da obra da Mendes Júnior, em um terminal de combustíveis da Petrobras. Agora, diz ele, quer trabalhar na obra.

"O Jurong vai gerar muitos empregos, mas tem um monte de gente despreparada", afirmou ele.

O jovem, que faz bico como taxista atualmente, foi ao centro se inscrever no curso de formação de mecânico montador.

"Fiz cursos de solda e pretendo seguir nessa área, mas enquanto não começam a procurar gente dessa área, eu me encaixo onde der."


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