Folha de S. Paulo


Data centers se valorizam no mundo financeiro

As empresas estão pagando caro para alugar espaços. Entretanto, não em arranha-céus de Manhattan, mas em edifícios banais de lugares sem glamour, como Weehawken, Secaucus e Mahwah, em Nova Jersey.

Os data centers, lugares anônimos pelos quais passam cada vez mais o comércio mundial, abrigam grandes bancos de armazenamento de dados remoto e oferecem enormes volumes de energia elétrica e ligações por fibra óptica ultrarrápida.

Os preços em Nova Jersey são o quádruplo do que em Manhattan porque lá ficam os data centers da Bolsa de Nova York e de outros mercados. Bancos e corretoras de títulos disputam para ter seus computadores, ou servidores, o mais perto possível desses mercados.

Distâncias mais curtas significam transações mais rápidas. Assim, microssegundos representam milhões de dólares ganhos ou perdidos.

Essa proximidade ajudou as ações de uma empresa do setor, a Equinix, a mais do que dobrar de valor no ano passado, superando os US$ 200.

"O negócio deles cresceu com uma rapidez incrível", disse John Stewart, analista sênior da Green Street. "Eles chegaram à cena justamente quando a demanda por armazenamento de dados e o crescimento da internet estavam explodindo."

A demanda por espaço para data centres cresce globalmente. Nos EUA, o mercado da Grande Nova York tem o espaço mais rentável, seguido pelas áreas de Washington/norte da Virgínia e San Francisco/Vale do Silício.

A capacidade elétrica costuma ser o elemento central dos contratos de arrendamento. O resultado, segundo mostra um levantamento, é que o setor evoluiu para se tornar um corretor de energia -obtendo um tremendo lucro ao revender o acesso à eletricidade.

Em Atlanta, a Resurgens, uma grande clínica ortopédica, usa um data center que queima constantemente de 25 a 32 megawatts, segundo Brian Johnston, diretor de tecnologia da Quality Technology. Isso equivale aproximadamente à energia necessária para abastecer 15 mil domicílios, segundo o Instituto de Pesquisas em Energia Elétrica.

Um fator-chave no lucro obtido por alguns data centers é a forma como eles vendem o acesso à energia. Troy Tazbaz, engenheiro de design de data centers da Oracle, com passagem pela Equinix, disse que por trás da tarifa mensal fixa cobrada por uma tomada existe um cálculo lucrativo.

Como os inquilinos, na média, usam aproximadamente metade da energia contratada, disse Tazbaz, esses data centers podem na prática vender a eletricidade pelo dobro do preço de custo.

CUSTO MENOR

Algumas empresas de data center cobram o consumo elétrico real e então acrescentam uma taxa calculada com base na capacidade ou área útil. Esses contratos, geralmente para inquilinos maiores, acabam tendo o menor custo real por metro quadrado.

Independentemente do modelo de cobrança, Chris Crosby, executivo-chefe da Compass Datacenters, de Dallas, disse que os data centers não podem ser considerados como concessionárias do setor elétrico, pois oferecem também proteções contra oscilações elétricas e geradores reservas.

Essa "é a razão pela qual as pessoas pagam pelo nosso negócio", disse Coby.

O boom dos data centers é exemplificado pela Equinix. Fundada no final da década de 1990, ela sobreviveu àquilo que Jason Starr, diretor de relações com investidores, chamou de "experiência de quase morte" quando a bolha da internet estourou, em 2001. Aí ela iniciou sua impressionante ascensão.

Sob qualquer aspecto, a Equinix é grande. Maior empresa de arrendamento de data centers no mundo, segundo a 451 Research, ela tem mais de 90 unidades. No ano passado, divulgou um faturamento de US$ 1,9 bilhão, com lucro de US$ 145 milhões.

Mas a empresa disse que sua capacidade de ampliação depende em parte do atendimento à crescente demanda por energia. Seu mais recente balanço anual observou que, devido ao aumento no uso de energia e à idade de alguns dos seus centros, "a atual demanda por energia pode superar a capacidade elétrica projetada nesses centros".

Atualmente, o gigantesco data center da Equinix em Secaucus fica quase às escuras, exceto pelas luzes que piscam nos servidores empilhados em prateleiras pretas, fechados em gaiolas.
Apesar da sua desolação, o local é um dos espaços mais cobiçados do planeta para operadores financeiros.

Poucos quilômetros ao norte, em um edifício sem identificação, numa esquina de Mahwah, ficam os servidores da Bolsa de Nova York. A uma distância quase igual ao sul, em Carteret, estão os servidores da Nasdaq.

A atração dos data centers para os inquilinos é uma questão de física: os dados, transmitidos como pulsos luminosos pelos cabos de fibra óptica, têm um limite de velocidade, cerca de 0,3 metro por bilionésimo de segundo. Então, estar perto de tantos mercados garante pouca diferença de tempo nas operações.

Como disse Starr: "Somos um imóvel de frente para o mar".


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