Folha de S. Paulo


Índios que cruzaram o Pará para protesto em Belo Monte começam a deixar região

Índios mundurucu que cruzaram o Pará para protestar contra a política indigenista do governo federal por meio de uma invasão da usina de Belo Monte começaram a deixar a região de Altamira neste sábado (11), após serem forçados a encerrar o protesto por ordem judicial de reintegração de posse.

A invasão, que durou uma semana e paralisou a obra no canteiro Belo Monte, hoje o principal da obra, expôs a tensão existente hoje entre o Planalto e os mundurucu.

O conflito recrudesceu desde operação recente de combate ao garimpo ilegal em terras mundurucu no rio Tapajós, na divisa de Mato Grosso e Pará, e ao início dos estudos que subsidiarão os relatórios de impacto ambiental das futuras e já polêmicas usinas do complexo Tapajós.

Em Belo Monte, até onde viajaram 24 horas com uma pauta diretamente voltada ao Planalto (e não ao consórcio construtor, como em outras invasões da usina por etnias da região), os últimos mundurucu saíram na noite da última quinta-feira (9).

Parte deles começou a voltar para suas aldeias. A saída ocorreu após decisão da Justiça Federal para reintegração de posse do território da hidrelétrica.

A invasão teve duração de uma semana e, durante esse período, as obras do canteiro Belo Monte ficaram paradas --a empresa responsável pela construção diz que os demais setores mantiveram atividades.

Os mundurucu do Tapajós protestavam contra a construção de hidrelétricas na Amazônia e pediam a regulamentação do dispositivo constitucional que prevê consulta prévia aos índios antes de obras que os afetem.

A pauta incluiu ainda a suspensão de estudos e obras de hidrelétricas em curso na região amazônica e a presença do ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral, responsável pela interlocução com movimentos sociais) no local para negociação, o que não ocorreu.

A pasta de Carvalho, que não foi ao local, divulgou nota em que expôs a insatisfação do Planalto em relação aos mundurucu, ao descrever, em tom duro, o grupo de Belo Monte como desonesto e movido pelo interesse na manutenção do garimpo ilegal no Tapajós.

Os cerca de 80 mundurucu que ainda estavam em Belo Monte saíram do canteiro na quinta, mas permaneceram em Altamira (PA), município onde está parte das obras.

A Norte Energia, empresa responsável pela hidrelétrica, informou ter colocado três ônibus para eles voltassem às suas aldeias. Segundo a empresa, apenas 40 índios aceitaram a oferta e um ônibus saiu neste sábado (11) levando-os à região de Itaituba, que fica a cerca de 475 km de Altamira.

A empresa diz que, como os demais não aceitaram, não tem mais responsabilidade de transportá-los ou de hospedá-los em Altamira.

A ausência de consulta prévia aos índios afetados por Belo Monte é objeto de uma das ações do Ministério Público Federal no Pará contra a hidrelétrica, mas o governo argumenta que fez audiências públicas para ouvi-los. (AGUIRRE TALENTO E THIAGO GUIMARÃES)


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