Folha de S. Paulo


Diário de Tóquio: Como o Japão quer atrair mão de obra estrangeira

No último ano, o número de trabalhadores estrangeiros radicados no Japão passou pela primeira vez a marca de 1 milhão, um crescimento de 20% em relação a 2015. É o quarto ano seguido de aumento no contingente de detentores de visto de trabalho, a maioria vinda de outros países asiáticos, como China, Vietnã e Filipinas.

O número parece grande, mas não supre a demanda por mão de obra no Japão. Setores como indústria e construção civil buscam trabalhadores avidamente. Analistas dizem que o país enfrenta a pior crise nessa seara desde 1991. As causas são a queda acentuada no total de nascimentos e o envelhecimento da população.

O Japão, porém, reluta em aceitar a solução importada. O primeiro-ministro, Shinzo Abe, advoga por uma participação maior das mulheres e da terceira idade no mercado de trabalho antes de abrir as portas para gente de fora. Enquanto isso, os parlamentares buscam formas de atrair estrangeiros sem chamá-los de imigrantes.

Há, por exemplo, um programa de estagiários e outro para treinamento de enfermeiros e cuidadores de idosos, que fixam prazo máximo para ficar no país –em geral, são três anos. Foi o que aconteceu com os brasileiros e outros latino-americanos, descendentes de japoneses, que começaram o movimento conhecido como decasségui no início dos anos 1990.

BRASILEIROS

Há, entre os projetos relacionados à instalação de trabalhadores estrangeiros que o Parlamento do Japão discute hoje, dois que preveem a concessão de vistos especiais para descendentes de japoneses da quarta geração, os chamados yonsei. Por ora, apenas segunda e terceira gerações podem solicitar a permissão.

Hoje existem cerca de 170 mil brasileiros no Japão. É a quinta maior população entre os não autóctones, atrás de chineses, coreanos, filipinos e vietnamitas. Em seu auge, em 2008, a comunidade tupiniquim chegou a somar 320 mil pessoas. Segundo o deputado Mikio Shimoji, autor de um dos projetos, a extensão do visto especial para a quarta geração poderia atrair outros 250 mil brasileiros.

O outro texto em discussão é assinado por uma comissão do partido governista, o Liberal Democrata (PLD), e propõe a instituição de um visto de "working holiday" para os yonseis.

Seria um programa bilateral, que permitiria a entrada de jovens interessados em estudar o idioma e trabalhar ao mesmo tempo. Atualmente, o Japão mantém acordos desse tipo com países como Austrália, Nova Zelândia e Canadá, além de alguns territórios europeus.

COREIA DO NORTE

Desde o começo do ano, a região da península coreana está em alerta com as ameaças da Coreia do Norte, que vem realizando testes sistemáticos de lançamentos de mísseis. Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul fazem pressão para que o país interrompa o programa de desenvolvimento nuclear.

As constantes intimidações de Kim Jong-un deixaram a população japonesa preocupada. Apesar de o governo assegurar que está preparado para se defender de eventual ataque, muitos cidadãos começaram a procurar pequenas empresas que comercializam purificadores de ar (os quais filtram até gases venenosos) ou abrigos subterrâneos.

MARMITAS

As marmitas, chamadas em japonês de bentou, têm uma inscrição longeva na cultura local. Em parques, eventos esportivos e até em teatros, é comum ver as pessoas com o objeto, seja levando quitutes caseiros, seja acomodando um lanche comprado numa loja de conveniência.

Existem sites, blogs, livros e revistas especializados no tema. As redes sociais mostram marmitas com temática infantil que mais parecem obras de arte.

Sheri Chen
Marmitas japonesas
Marmitas japonesas

A cada ano surgem tendências e modas ligadas ao recipiente. A atual é a das "papaben", contração que une as palavras "papa" (papai) e "ben" (bentou). Neste mês, o frisson estendeu-se aos cinemas. Saiu um filme chamado "Papa no Obentou wa Sekai-Ichi" (a marmita do papai é a melhor do mundo).

O longa se inspirou num tuíte que viralizou no ano passado. Tokikazu Ohtsu preparava a marmita para a filha adolescente Midori, que postou a foto da refeição montada pelo pai no último dia de aula antes da formatura dela.

Veja o trailer do filme

EWERTHON TOBACE, 40, é jornalista, produtor e documentarista em Tóquio.


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