Folha de S. Paulo


Arte latino-americana é estrela da temporada nos museus da Califórnia

Kevork Djansezian/Reuters
Manifestantes na esquina das avenidas Florence e Normandie, onde começaram os protestos de 1992 em Los Angeles
Manifestantes na esquina das avenidas Florence e Normandie, onde começaram os protestos de 1992 em Los Angeles

A turma de Donald Trump pode até tentar manter os latino-americanos longe dos EUA, mas na Califórnia eles foram convidados a tomar conta de 70 exposições que têm início a partir de setembro no sul do Estado, em diversas cidades, museus e instituições.

Objetos de luxo dos incas e astecas, fotografias da Argentina de meados do século 19 e obras do concretismo brasileiro são alguns dos temas do projeto "Pacific Standard Time: LA/LA", um ambicioso diálogo entre arte latino-americana e Los Angeles, o condado (divisão administrativa que abrange mais de uma cidade) mais populoso do país, com 48% de sua população formada por hispânicos e latinos.

"Com suas raízes históricas na América Latina e sua atual demografia, Los Angeles pode ser descrita como a capital do amanhã", dizem os organizadores no site PacificStandardTime.org.

"De um jeito que só é possível aqui, o projeto levantará questões complexas e provocativas sobre as relações de hoje entre as Américas e as mudanças no tecido cultural e social no sul da Califórnia."

Já "Reinos Dourados: Luxo e Legado na América Antiga" irá trazer 300 obras arqueológicas de Peru, da Colômbia, do Panamá, da Costa Rica, de Guatemala e do México, emprestadas por 50 instituições mundiais. A mostra ocorre no Getty Center, que também organiza uma exposição sobre arte concreta brasileira e argentina. Os 30 trabalhos da coleção de Patricia Phelps de Cisneros serão apresentados ao lado de vídeos e documentos com as descobertas técnicas feitas ao longo das pesquisas de três anos.

Haverá também individuais, como a da mineira Valeska Soares, no Museu de Arte de Santa Bárbara. O Brasil também aparece na exposição "Axé Bahia: O Poder da Arte numa Metrópole Afro-brasileira", no Museu Fowler, da universidade UCLA. A iniciativa "Pacific Standard Time: LA/LA" foi financiada pela Getty Foundation, que desembolsou US$ 16 milhões.

CIDADE EM CHAMAS

Os violentos protestos de 1992, que deixaram mais de 50 mortos, 2.000 feridos e 11 mil presos, foram relembrados nas últimas semanas com uma série de documentários e especiais de TV. Conhecidas como "L.A. riots" (os tumultos de L.A.), as manifestações transformaram as ruas da cidade em campo de batalha por seis dias, após um júri absolver quatro policiais brancos que haviam espancado Rodney King, um motorista negro.

"LA 92", em cartaz nos cinemas, foi produzido pela National Geographic, que irá exibi-lo em canais de 171 países. O filme foi montado com imagens de arquivo, que mostram lojas sendo saqueadas e carros incendiados, por exemplo, no intuito de continuar o debate sobre ódio racial que persiste no país.

O canal A&E fez um especial de duas horas para marcar os 25 anos do conflito, entrevistando testemunhas. Um dos personagens era o dono de uma loja de armas, que diz ter atirado para proteger sua vida e sua propriedade em Koreatown, bairro saqueado por gangues.

Já Spike Lee dirigiu "Rodney King", disponível no Netflix, um intenso monólogo do ator Roger Guenveur Smith, na pele de um homem espancado pela polícia.

CIDADE DO CINEMA

Novidades do cinema americano independente estarão nas telas do LA Film Festival, de 14 a 22 de junho, nos cinemas da rede Archlight. Os organizadores são os mesmos do prêmio Spirit Awards.

"The Book of Henry" (o livro de Henry), com Naomi Watts, e "Brigsby Bear" (o urso Brigsby), com Claire Danes, estão entre os filmes selecionados, além de longas internacionais, como o coreano "On the Beach at Night Alone" (sozinha na praia à noite), de Hong Sang-soo, que rendeu o prêmio de melhor atriz em Berlim para Kim Min-hee.

NA MESA COM TIM BURTON

Sucesso em Nova York, o restaurante e bar temático Beetle House abre em Hollywood em 20/5 para uma temporada no Prospect Theater até agosto. Inspirado em filmes de Tim Burton, o restaurante terá no palco uma miniatura da cidade do protagonista de "Beetlejuice - Os Fantasmas se Divertem" (1988), onde os clientes vão poder tirar fotos e passear entre um petisco e outro.

"Teremos vários atores trabalhando para nos ajudar a criar uma experiência autêntica", disse um dos criadores, Zach Neil, para a revista "LA Mag". Reservas podem ser feitas online: beetlehousenyc.com/la-reservations.

FERNANDA EZABELLA, 36, é jornalista.


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