SOBRE O TEXTO Este poema, inédito em livro, foi escrito em 1988 para Daniel Fuentes. Trata-se do filho de José Luis Mora Fuentes, o Sapo (apelido dado por sua amiga Hilst), escritor espanhol radicado no Brasil. O texto está em "Da Poesia", reunião da obra poética de Hilst a ser lançada em abril pela Companhia das Letras. Daniel é presidente do Instituto Hilda Hilst.
Divulgação | ||
Desenhos de Hilda Hilst |
Eu sou a Monstra.
Procuro o Daniel
Para desenhar comigo
A Monstra no papel.
Eu sou assim?
A bruxa do mato
Montada num cavaco?
Ou sou assado?
Gorda e assustada
Como a porca no prato?
Sou comprida e fina
Um arame ou lombriga?
Ou sou estufada
Igual a minha barriga?
Ou sou só monstrenga
Quando quero briga?
Eu sou a Monstra
De muitas caras.
Tenho mil capas.
Posso ser roseira
Posso ser sucata.
Posso ser rainha
Posso ser vassoura
Posso ser um corvo
E astronauta.
Eu tenho um segredo:
Eu tenho um amigo.
E gosto tanto dele
Como gosto dos dedos.
Dos dedos?
Pergunta o Sapo
Esgoelando no lago.
E a Monstra responde:
Os dedos seguram canetas
Batem nas teclas
Escrevem poemas e cartas.
E o que seria da Monstra
Da Poesia |
Hilda Hilst |
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De mãos amputadas?
E o que seria da Monstra
Se não fosse poeta
Para brincar de medo
De magia, de loucura
E de dedo.
HILDA HILST (1930-2004) foi uma poeta e dramaturga brasileira