Folha de S. Paulo


Campanha ambientalista de Björk entra no currículo das escolas nórdicas

A "exploração multimídia do universo" criada pela cantora e ativista islandesa foi adotada como parte do currículo escolar na Escandinávia

O perfil cada vez mais destacado da cantora islandesa Björk como guru ambiental de nossa era está a ponto de ser reconhecido pelas escolas europeias. Uma "exploração multimídia do universo" da qual Björk é pioneira, com a ajuda de um grupo de especialistas em ecologia, será adotada como parte do currículo escolar de diversos países do norte da Europa, entre os quais sua Islândia natal. A estrela da música, que normalmente passa os primeiros meses do ano em sua casa em Nova York, esteve na Escandinávia trabalhando com educadores, neste trimestre, a fim de preparar o Programa Educacional Biofilia.

Sua iniciativa, bancada pelo Conselho Nórdico, é um projeto não acadêmico e que já vinha sendo usado informalmente na Islândia. Em entrevista à revista do "Observer", que sai na semana que vem, Björk disse que o programa era "muito popular com as crianças que sofrem de déficit de atenção e hiperatividade, e de dislexia", porque se afasta da natureza tradicional do currículo islandês, muito preso às salas de aula. "Infelizmente, isso significa que tivemos de nos sentar e escrever um currículo, o que é uma contradição".

A primeira encarnação do projeto Biophilia, de Björk, foi como um álbum que representava ambiciosa colaboração entre criadores de apps, cientistas, engenheiros e um coral feminino islandês de 24 vozes. O show com o repertório do álbum gerou uma turnê mundial de três anos de duração. Daqui a alguns meses, um filme sobre a turnê será lançado, com narração de Sir David Attenborough. Björk aparecerá nele usando uma peruca ruiva e pintura de guerra azul no rosto.

Divulgação
A cantora Björk
A cantora Björk

O termo "biofilia", que ela emprega, foi tomado de empréstimo a um influente livro de Edward O. Wilson publicado em 1984, cujo argumento central é o de que a espécie humana foi feita para conviver com outras formas de vida. Björk lançou um app que brinca com esse conceito de Wilson e permite que os usuários baixem suas canções em forma de jogos educacionais interativos.

Mas este ano ela se concentrou na crescente pressão internacional pelo uso da energia geotérmica islandesa para a transformação de bauxita em alumínio. "Quero que a campanha atraia interesse estrangeiro", ela disse na entrevista que sai na semana que vem. "Isso não pode importar apenas a nós, precisa importar a todos, e precisamos deter esse esforço".

Campanhas ambientais em base nacional são relativamente novas na Islândia, já que o ativismo do país tendia a se concentrar em causas mundiais, como a pesca e a indústria baleeira, promovidas por organizações como a Greenpeace e a Friends of the Earth, e com a Islândia muitas vezes desempenhando o papel de vilã.

O novo movimento, baseado em Reykjavík, é visto com suspeita nas terras altas islandesas, onde muita gente está sofrendo com o colapso do setor pesqueiro. Björk admite que já foi acusada algumas vezes de ser ativista em tempo parcial, mas disse que existe crescente compreensão, em todas as seções da sociedade islandesa, de que o país conta com algo que merece proteção.

A cantora realizou um show com a presença de nomes famosos como Patti Smith e Of Monsters and Men e levantou 35 milhões de coroas islandesas (US$ 184 mil) para a campanha. "Na Islândia isso é muito dinheiro", ela disse. "Decidimos que vamos criar um parque nacional no centro do país; em lugar de brigar com os caipiras, vamos simplesmente colocar a ideia em prática."

O programa educacional de Björk começou como uma série de oficinas para estudantes islandeses e se transferiu a Nova York em 2012, quando ela foi artista residente no New York Hall of Science. Uma campanha fracassada no Kickstarter, site de financiamento coletivo, um ano atrás, tinha por objetivo criar um programa mundial, oferecendo um currículo-base e temas para ampliar o conhecimento dos estudantes sobre a natureza e a ciência.

O programa até o momento já foi implementado com sucesso em Paris, Oslo, São Paulo, Buenos Aires, Manchester, Los Angeles e San Francisco.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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