Folha de S. Paulo


Zero à esquerda ou zero à direita?

Ignácio de Loyola Brandão estará na Casa das Rosas terça-feira (1º), às 20h, para discutir seu livro "Zero" e falar sobre os 50 anos do Golpe de 64. O encontro será aberto ao público.

A Casa das Rosas fica na av. Paulista, 37. Os telefones são (11) 3285-6986 e (11) 3288-9447.

Confira abaixo texto do editor Raul Wassermann sobre o romance de Loyola Brandão.

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Com tantos artigos sobre os 50 anos do golpe de 64, o tópico da censura tem reaparecido e o livro "Zero", de Ignácio de Loyola Brandão, sempre é mencionado.

"Zero" foi um caso paradoxal, que vivi com a censura. Mais do que isso, promoveu a minha aproximação com Loyola.

Quando iniciamos a Summus, há exatos quarenta anos, outras editoras tentavam se estabelecer no mercado e havia uma dificuldade comum a todas: o tamanho dos catálogos não justificava um departamento de vendas.

Formamos, então, uma "coalizão" de pequenas editoras que seriam distribuídas em São Paulo pela Summus. Uma era de Porto Alegre, duas de São Paulo e duas do Rio.

Entre as cariocas, havia a Brasilia-Rio, editora do "Zero". Aliás, vale contar que os direitos dele foram comprados dos italianos. Isso porque, como ninguém queria lançá-lo no Brasil, ele foi lançado primeiro na Itália.

Um comentário à parte. O livro tinha uma formulação bem diferente e, até hoje, muitos sentem dificuldade em passar das primeiras páginas. Eu, levei três meses tentando os primeiros capítulos e, só quando "entendi o jogo", terminei o livro em um fim de semana.

Em São Paulo, vendemos bem até um certo limite, quando as vendas começaram a cair.

Eis que, de repente, chega uma notícia chocante: o livro havia sido proibido. E, para nossa surpresa, a partir daí o telefone passou a chamar freneticamente e todos queriam comprar o "Zero" e rapidamente ficamos sem livros.

No Rio, ao contrário, a editora preferiu se acautelar e não prosseguir com as vendas, apesar de ainda contar com um bom estoque. Não tivemos dúvida: alugamos duas Kombis, que vieram lotadas com a preciosa carga para São Paulo e vendemos tudo rapidamente. A operação toda levou menos de 48 horas.

E assim a ditadura acabou prestando um pequeno serviço: alavancou nossas vendas e a fama de Loyola.

RAUL WASSERMANN, 71, ex-presidente da Câmara Brasileira do Livro (1999-2003), é diretor do grupo editorial Summus


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