Folha de S. Paulo


Reportagem consumiu dez meses

A primeira visita à obra de Belo Monte aconteceu debaixo d'água. Chovia como só chove na Amazônia, em março, e foi preciso amassar muito barro para fazer o reconhecimento do terreno nos três canteiros de construção, separados por dezenas de quilômetros.

Ficou evidente que um só repórter, em poucos dias, não daria conta de abarcar todos os aspectos do empreendimento controverso, que enfrenta resistências desde os anos 1980.

Planejou-se enviar quatro ou cinco jornalistas à área, em agosto (estação seca), por duas semanas. Uma decisão acertada. Com o Xingu mais baixo, a transparência de suas águas revelou toda a majestade do rio que margeia duas dezenas de terras indígenas em seus cerca de 2.700 km.

Em paralelo, aprofundavam-se as pesquisas para produzir os infográficos sobre a intrincada engenharia da usina.

Na Volta Grande, agora ameaçada pela barragem, o Xingu se espraia por uma enormidade de canais límpidos. Ali vicejam os acaris, família de peixes ornamentais que está na base da sobrevivência de muitos índios e ribeirinhos.

O contraste com Altamira, rio acima, é chocante. A cidade viu sua população aumentar pelo menos 40% em dois anos. "Caos" é a palavra que mais se ouve -no trânsito, na violência, nas obras de saneamento que rasgam as ruas da noite para o dia.

Isso para não falar do despreparo do poder público em mitigar os previsíveis impactos sociais do empreendimento.

O resultado de quase dez meses de trabalho, no qual se envolveram de uma maneira ou de outra 15 jornalistas, aparece hoje na série Tudo Sobre, do site da Folha. Uma extensa reportagem acompanhada de gráficos dinâmicos, vídeos e fotos para mostrar todas as facetas da maior obra em curso no país.

MARCELO LEITE, 56, repórter especial da Folha, é autor de livros como "Promessas do Genoma" (ed. Unesp). Coordenou o projeto Tudo Sobre / Belo Monte.


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