Folha de S. Paulo


12 coisas que você não sabia sobre a família real holandesa

1. O novo rei costurou sua roupa de mergulho

Willem-Alexander passou dois anos morando no chuvoso País de Gales, quando adolescente, nos anos 80, como aluno de um colégio internacional de segundo grau. Sua mãe, a rainha Beatrix, foi ao Atlantic College, perto de Bridesend, para levar o príncipe. Equipes de TV holandesas a acompanharam para acompanhar o momento, e mais tarde costumavam ser vistas perto da escola. A escola, conhecida como AC, abriga estudantes de mais de 90 países. (Há um forte contingente holandês, cujo lema é "se você não é holandês, ninguém liga para você".) O AC tem um espírito de forte idealismo, com ênfase em compreensão entre as nações; a maioria dos alunos está na escola com ajuda de bolsas de estudo.

O campus tem um castelo medieval ao estilo Harry Potter, uma liça para duelos a cavalo e belas vistas do canal de Bristol. O currículo habilita os alunos a um diploma internacional, o International Baccalaureate. O príncipe adolescente se tornou membro da equipe de botes salva-vidas do RNLI, tripulados por alunos do AC que ocasionalmente eram convocados para trabalhar em resgates. Os integrantes tinham de costurar suas roupas de mergulho. O príncipe era um bom jogador de squash. Discreto, Willem tinha a reputação de gostar de festas e de conquistas. Namorou diversas alunas latino-americanas, e ninguém se surpreendeu muito quando ele mais tarde se casou com uma argentina.

2. A família real holandesa custa mais ao país que a britânica ao Reino Unido

Para uma monarquia supostamente discreta e ciclista, ao modelo escandinavo, a família real holandesa custa surpreendente caro ao país. De acordo com um estudo anual conduzido em 2012 por Herman Matthijs, professor de ciência administrativa e finanças públicas na Universidade de Ghent, a casa real de Oranje-Nassau custa aos contribuintes holandeses 31 milhões de libras ao ano. É um custo superior ao de qualquer família real da Europa ocidental - o que inclui pela primeira vez a casa de Windsor, cujos custos diretos para o contribuinte britânico foram reduzidos em 16% no ano passado, para cerca de 29,7 milhões de libras.

A conta total da família real holandesa é quatro vezes maior que a da família real espanhola - e o custo proporcional é ainda mais caro, porque a população da Holanda, 16,7 milhões de pessoas, é apenas um terço da população espanhola e um quarto da população britânica. Os gastos se dividem entre os estipêndios pagos à rainha e ao príncipe herdeiro (em 2010, a rainha Beatrix, o príncipe Willem-Alexander e a princesa Máxima receberam 7,1 milhões de euros), despesas incorridas no exercício dos deveres reais (27 milhões de euros), e despesas relacionadas à administração da casa real (5,7 milhões de euros). A família real holandesa também é muito rica. Em 2009, a revista "Forbes" estimou o patrimônio da rainha Beatrix em US$ 200 milhões, mencionando reportagens de que a rainha e sua família haviam perdido dinheiro em seus investimentos de capital e devido à queda do valor dos imóveis, e também que talvez tenham sofrido prejuízos de até US$ 100 milhões no esquema de pirâmide de Bernie Madoff - ainda que a casa real negue insistentemente essas alegações.

3. A reputação de Willem

O rei Willem-Alexander foi um jovem festivo, e ganhou o apelido "Prins Pils" (príncipe da cerveja), por seu apreço pela cerveja na época de estudante, e por ter caído com o carro em uma vala.

4. O aniversário do monarca é celebrado com uma venda de garagem

A partir do ano que vem, o Koninginnedag, ou Dia da Rainha, se tornará o Koningsdag, ou Dia do Rei. É um feriado nacional holandês encantador, se bem que um tanto aloprado, celebrado a cada ano desde 1948 em 30 de abril (ou por aí). A data é o aniversário de Juliana, a mãe de Beatrix, e Beatrix escolheu celebrar seu aniversário na mesma data. O Koninginnedag, surpreendentemente, é o único dia do ano em que os holandeses estão autorizados a vender o que quiserem, onde quiserem, o que significa que o país se torna essencialmente um grande mercado de pulgas. Que um dos maiores países mercantis da História opte por celebrar o aniversário de seu monarca realizando uma espécie de venda nacional de garagem tem algo de muito satisfatório.

5. Eles não usam coroas

Na verdade, não existe coroação. Willem-Alexander se tornou rei no momento em que sua mãe assinou o documento de abdicação, e mesmo na cerimônia formal de posse a coroa, centro e orbe foram apenas exibidos sobre uma mesa. A coroa propriamente dita, aliás, foi feita de prata folheada a ouro em 1840, e usa pérolas falsas e joias feitas de escamas de peixes, vidro e papel colorido.

6. Parte do reino fica no Caribe

A Holanda é apenas uma parte dos Países Baixos, é claro - e nem mesmo a maior parte. (Chamar o país de "Holanda" é como chamar o Reino Unido de Inglaterra.) Mas a Holanda em si é apenas parte do reino da Holanda, que inclui também as ilhas de Aruba, Curaçao e Sint Maarten, no Caribe. Os cerca de 280 mil moradores dessas ilhas agora também têm um novo rei.

7. Eles têm o hábito de escolher cônjuges indesejáveis

A ex-rainha Beatrix causou indignação em 1966 quando escolheu como marido Klaus-Georg von Amsberg, membro da nobreza alemã que havia sido membro da Juventude Hitlerista e servido às forças armadas alemãs na Segunda Guerra Mundial. A cerimônia causou protestos e bombas de fumaça foram arremessadas, em protesto contra a inclusão de um membro das forças de ocupação inimigas na elite do país. Mais tarde, em 2002, Willem-Alexander se casou com Máxima Zorreguietta Cerrutti, argentina e filha de um dos ministros do general Videla nos anos mais sombrios da ditadura militar em seu país. Sensatamente, o pai da noiva não compareceu ao casamento. Os dois cônjuges se provaram boas escolhas posteriormente, no entanto, e conquistaram o afeto do público da Holanda.

8. O novo rei é o 889º na linha de sucessão ao trono britânico

Mais ou menos. É difícil calcular essas coisas com precisão. Mas a família real holandesa tem laços de parentesco com quase todas as demais famílias reais da Europa. O rei Willem-Alexander, através de Jan Willem Friso, príncipe de Orange e seu ancestral há 10 gerações, é primo da rainha Margrethe 2ª da Dinamarca, do rei Alberto 2º da Bélgica, do Grão-Duque de Luxemburgo, do rei Harald 5ª da Noruega, do rei Juan-Carlos da Espanha, do príncipe Alberto de Mônaco e de nossa rainha Elizabeth 2ª.

9. Os filhos da família real frequentam escolas públicas

Quando falam, sua dicção soa perceptivelmente refinada aos ouvidos dos holandeses comuns, mas em suas escolhas a família real da Holanda é firmemente igualitária. O rei Willem-Alexander estudou em escolas públicas, e suas filhas Catharina-Amalia, Alexia e Ariane fazem o mesmo. Sua mulher, a rainha Máxima, ajuda a escola como "mãe do piolho", ou seja, ajuda a inspecionar os cabelos dos alunos para prevenir piolhos.

10. Eles têm empregos comuns

Antes do acidente de esqui que o deixou em coma, o irmão mais novo de Willem-Alexander, Friso (que renunciou ao seu direito de sucessão ao trono para se casar com Mabel, a quem o Legislativo holandês não havia aprovado), era executivo em um banco e depois foi vice-presidente financeiro da Urenco, uma companhia de combustível nuclear. Constantijn, o mais jovem dos três irmãos, trabalha para a Rand Corporation, uma organização de pesquisa.

11. Todos eles se interessam um pouco por política

Como no Reino Unido, espera-se que os membros da família real holandesa não expressem opiniões políticas, e que assinem sem questionar as leis que lhes são encaminhadas pelo Legislativo, e eles em geral o fazem. Quando a rainha Beatrix visitou mesquitas em Omã e Abu Dhabi no ano passado, porém, ela foi criticada por Geert Wilders, o líder de um popular partido anti-islâmico, por ter usado um véu. Em resposta, a rainha disse a jornalistas que a controvérsia era "tola", o que demonstra claramente quais são suas simpatias no caso.

12. Eles estão determinados a não parecerem caretas

O rei Willem-Alexander não quis adotar o nome de Willem 4º porque, segundo ele, não desejava ser rotulado por um número. Houve sugestões de que o motivo real foi evitar ser chamado de "vier" (quatro) porque a palavra rima com "bier" (cerveja"), o que tornaria quase irresistível a tentação de chamá-lo de Willem Bier, tendo em vista seu apelido anterior. O pai dele, o príncipe Klaus, tinha apego tão forte à informalidade que se tornou famoso por criticar o uso de gravatas. Ele expressou seus sentimentos a respeito pela primeira vez em uma cerimônia de premiação a estilistas africanos, quando anunciou seu desprezo por "esta cobra em torno de meu pescoço" - uma declaração que se tornou conhecida desde então como "a declaração da gravata".

Tradução de PAULO MIGLIACCI.


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