Folha de S. Paulo


Filme "O Grande Gatsby" inspira elegância em tempos difíceis

O remake dirigido por Baz Luhrmann de "O Grande Gatsby" vai abrir o Festival de Cinema de Cannes, em maio, e observadores da moda estão prevendo um banquete visual que fará muitas pessoas olhar de volta para os anos 1920.

De quando em quando surge um filme que vira fonte de inspiração em matéria de vestimenta: desde Audrey Hepburn "gamine" em "A Princesa e o Plebeu" e o estilo andrógino de Diane Keaton em "Annie Hall" até a moda colonial que dominou as passarelas em meados dos anos 1980, inspirada no safári cinematográfico de Karen Blixen em "Entre Dois Amores".

O clima de expectativa em torno da sexta adaptação para o cinema do romance de F. Scott Fitzgerald significa que o estilo Art Deco já vem ganhando força em nossa consciência, enquanto estilistas e varejistas se antecipam para atender ao público ansioso para emular a elegância opulenta dos "roaring twenties" --os animados anos 1920.

O site de mural social Pinterest, que funciona como bom barômetro de tendências, revela um aumento de atividade de participantes que criam murais dedicados a casamentos, interiores, beleza e moda inspirados em "O Grande Gatsby".

O hotel Claridge's, famoso por sua arquitetura Art Deco, será sede de uma série de masterclasses da dança Charleston, ministradas pelo grupo The Bee's Knees, descrito como "as melhores melindrosas de Londres". "As mulheres que se enxergam como verdadeiras 'garotas Gatsby' poderão se adornar com acessórios como faixas de cabeça com paetês, colares de pérolas e luvas compridas de cetim", diz o texto promocional das masterclasses.

Na Topshop, Zara e ASOS, garotas teens e um pouco mais velhas vêm comprando os vestidos de melindrosa, enfeitados com contas, e estilistas que vão de Jenny Packham a Ralph Lauren exibem versões mais caras e adultas dos mesmos nas passarelas. As joalherias relatam um aumento do interesse por pérolas, e sapatos estilo bonequinha e casacos em forma de casulo ganham novas interpretações para consumidoras contemporâneas.

A maior leiloeira especializada do Reino Unido, Kerry Taylor, conta que há uma demanda crescente por peças vintage da época, especialmente nos Estados Unidos, onde socialites ricas andam comprando criações originais para usar em festas.

"Artigos que eu normalmente avaliaria em entre £400 e £600 estão saindo por £1.000 a £1.500 porque o mercado americano tem interesse, se bem que um original de Chanel ou Vionnet seja arrematado por £15 mil a £20 mil", ela conta. "Mas você não quer parecer que acabou de sair do set de 'Downtown Abbey'. Daphne Guinness pega lindos artigos vintage e os coloca junto com algo da Claire's Accessories ou de um estilista de vanguarda. Kate Moss também mistura peças, usando acessórios fortes com um vestido original feminino e frágil. O segredo é não fazer o look da cabeça aos pés, como se você estivesse indo a uma festa fantasia."

NEXO DE PENSAMENTO

Usando uma abordagem semelhante para justapor estilo contemporâneo e autenticidade de época, a esposa e colaboradora de Luhrmann, Catherine Martin, pediu a ajuda de Miuccia Prada para vestir a atriz principal do filme, Carey Mulligan, para o papel de Daisy Buchanan, retomando o papel celebrizado por Mia Farrow no filme de 1974 de Jack Clayton em que Robert Redford fez Jay Gatsby, agora encarnado por Leonardo DiCaprio.

"Miuccia sempre vê o futuro com olhos vintage e Baz sempre enxerga o passado com olhos modernos, de modo que há um nexo de pensamento interessante", comentou Martin. "Assim, depois de uma colaboração intelectual prolongada, em que conversamos sobre essas roupas modernas que infiltram a história, ela contribuiu com 40 figurinos, que conferem uma textura maravilhosa ao filme."

A figurinista Theoni Aldredge recebeu um Oscar quatro décadas atrás por seu trabalho com o estilista na época pouco conhecido Ralph Lauren, criando um guarda-roupa muito admirado para Robert Redford, como o milionário elegante. Apesar de uma recepção crítica apenas mediana, o filme de 1974 foi um sucesso financeiro. Recebeu um segundo Oscar por melhor trilha sonora, e o estilo belo da costa leste da elite social na Era do Jazz capturou a imaginação de uma sociedade que passava por tempos econômicos difíceis.

"Me lembro das restrições econômicas pelas quais passava o Reino Unido na época em que saiu o glorioso 'Grande Gatsby', nos ans 1970", comenta Mark Oliver, chefe de artes decorativas da casa de leilões Bonham's. "Era uma fantasia escapista perfeita, cheia daquele glamour Art Deco e do burburinho social forte dos anos 1920.

Há semelhanças hoje, na medida em que passamos por um clima econômico deprimido e buscamos um estilo que nos arranque desse clima. Teremos vários grandes leilões da Era do Jazz na época do lançamento do filme, que vão incluir cerâmicas, artigos de vidro de Lalique e objetos de decoração do tipo que seria visto na casa de Jay Gatsby."

Para quem dispõe de um orçamento digno de Gatsby, Oliver diz que há muito interesse por um estudo em bronze e marfim de Demetre Chiparus da dançarina Almeria, que será posto à venda no leilão Era do Jazz de 19 de junho, com preço estimado em entre £200 mil e £300 mil. "Poucas vezes antes vi algo que encarne com tanta beleza o estilo Art Deco, tão típico do mundo abastado do Grande Gatsby" diz Oliver.

Tradução de CLARA ALLAIN.


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