Folha de S. Paulo


Discos orquestral e 'de amor' reveem Tom Jobim, que faria 90 anos em 2017

Um se chama "Jobim - Orquestra & Convidados". O outro, "Piano, Voz e Jobim". Os títulos deixam claras a diferença de formato entre os dois CDs e, como se ainda fosse preciso, a facilidade com que a obra de Tom Jobim se adapta ao grande e ao pequeno.

O primeiro é um projeto de Paulo Jobim, filho do maestro, e Mario Adnet. Serve como extensão a "Jobim Sinfônico", que, produzido pela dupla, ganhou o Grammy Latino em 2004 e foi indicado ao Grammy internacional.

Já o segundo, de ar intimista e 15 canções, une o cantor Augusto Martins e o pianista Paulo Malaguti Pauleira.

Ambos foram lançados recentemente, na esteira das comemorações dos 90 anos que Tom Jobim teria completado em 25 de janeiro de 2017.

Se em "Jobim Sinfônico" havia só uma faixa com voz (a de Milton Nascimento), "Jobim - Orquestra & Convidados" tem 10 faixas cantadas, de um total de 13. Na maioria, os intérpretes são jovens.

"Pensamos em fazer com cantores famosos, mas depois resolvemos chamar os jovens. É melhor em termos de legado, pois injeta juventude na obra e ajuda a garotada que tem interesse no Tom a ter ainda mais interesse", afirma Adnet.

O CD vem com um DVD que registra as gravações. As imagens foram usadas numa série exibida no Arte 1. O acordo com a emissora inseriu no repertório músicas conhecidas, como "Desafinado" (na voz de Adnet) e "Águas de Março" (com Antonia Adnet).

"Isso é inevitável. Senão, vira um disco de um compositor que ninguém conhece", argumenta Paulo Jobim.

Mas há temas menos previsíveis, como "O Boto" (com Daniel Jobim, filho de Paulo), "Olha Maria" (com Júlia Vargas), "Falando de Amor" (com Alice Caymmi) e "Um Certo Capitão Rodrigo" (com o violonista Yamandu Costa).

Parte dos sobrenomes indica um projeto familiar, de núcleos que conviveram com o maestro e seguem próximos.

As gravações tiveram uma orquestra de 22 cordas. Quatro arranjos são de Claus Ogerman, o alemão que fez as principais orquestrações da obra de Tom e que morreu em 2016. Mas houve adaptações para um número de músicos inferior ao das versões originais.

"Tom deixou tudo muito bem estruturado. É o que eu chamo de mapa. É possível criar coisas interessantes, mas não adianta inventar. Ninguém vai fazer melhor do que ele fez", diz Adnet.

DISCO DE AMOR

Paulo Malaguti Pauleira concorda com Adnet, mas procurou pôr sua assinatura no projeto com Augusto Martins. "É possível fazer coisas sem agredir a obra do Tom, que é formalmente perfeita".

Ele já tocou músicas de Tom Jobim acompanhando intérpretes como Nana Caymmi, Verônica Sabino e Ithamara Koorax. E seu estilo é voltado para cantores, pois ele é um: participou do grupo Céu da Boca, integra hoje o MPB-4 e o Arranco de Varsóvia e está lançando o CD "Segundo Pauleira".

"As canções são o que há de melhor na música brasileira. É uma brincadeira que não acaba nunca", diz.

Martins, 49, não buscou muitas surpresas para o repertório. Interpreta clássicos, como "Estrada do Sol", "Luiza", "Insensatez" e "Se Todos Fossem Iguais a Você". Em comum com o CD de Paulo Jobim e Adnet estão "Chovendo na Roseira" e "Eu te Amo".

"É um disco de amor", resume o cantor. "Eu e Pauleira fizemos shows há dez anos, nos 80 do Tom. Poderíamos ter gravado um disco, mas eu não tinha a capacidade que tenho hoje de entender a carga emocional das letras."

Se no passado havia Orlando Silva e Dick Farney, hoje são raros os intérpretes que não compõem. Martins carrega essa bandeira com Zé Luiz Mazziotti. "Num trabalho de voz e piano o cantor fica muito exposto. E é ótimo", destaca o cantor, que elege "Sabiá", parceria com Chico Buarque, a mais bonita do CD.

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JOBIM - ORQUESTRA & CONVIDADOS
ARTISTAS Paulo Jobim, Mario Adnet e outros
GRAVADORA Biscoito Fino
QUANTO R$ 49,90

PIANO, VOZ E JOBIM
ARTISTAS Augusto Martins e Paulo Malaguti Pauleira
GRAVADORA Mills
QUANTO R$ 26,90


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