Folha de S. Paulo


Do funk ao eletrônico, conheça artistas da música que se destacaram em 2017

Tim Bernardes expõe dor de amor em 'filme musical'

Uma das boas surpresas do ano saiu de um quarto, uma espécie de santuário da intimidade de Tim Bernardes, 26, músico já conhecido na cena musical contemporânea.

Figura à frente de O Terno, o cantor e multi-instrumentista paulistano lançou em setembro seu primeiro álbum solo. "Recomeçar" trouxe 13 canções costuradas por arranjos eruditos e uma temática dolorosa sobre a presença do amor e a falta dele.

"Eu já compunha músicas que eu sentia que não eram pro Terno, eram mais expostas ou solitárias de alguma forma", diz ele. "Algumas delas eram da mesma família e achei que seria legal lançá-las juntas em um álbum."

Ele gravou sozinho a maior parte dos instrumentos –violões, guitarras, pianos, bateria, baixo, órgão, percussões– com a ideia de que os arranjos transformassem a obra num filme. "Queria que emendassem uma faixa na outra, como se fosse uma música intensa de 45 minutos".

Pensado como um todo, ainda que as canções sobrevivam sozinhas, o álbum se tornou um raro acontecimento na era dos singles.

Para o músico, apesar das letras tristes, a música "te leva para cima". "Antes de ser melancólico, é um retrato exposto de uma maneira sincera. Tem coisas tristes, mas mais do que tudo, é bonito."

Tanto Faz

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Ana Alexandrino/Divulgação
A cantora Letícia Novaes apresenta seu novo projeto,
A cantora Letícia Novaes apresenta seu novo projeto, "Letrux em Noite de Climão"

Cantora assume a personagem Letrux em projeto solo

"Eu quis dar uma 'fenixada'. Morri e nasci de novo", diz a cantora e compositora carioca Letícia Novaes, 35, referindo-se ao seu novo projeto solo, no qual encarna a persona Letrux.

Conhecida por seu trabalho no grupo Letuce –ao lado de seu ex-marido Lucas Vasconcellos-, ela lançou neste ano o álbum "Letrux em Noite de Climão".

"Tem a ver com tudo o que ouvi até hoje e o que me dá tesão. A letra e a melodia conseguiram um atravessamento pop, mas com um nível de esquisitice que me interessa".

Gravado em maio, o disco de 11 faixas foi viabilizado via crowdfunding e reúne participações de Marina Lima, Ana Cláudia Lomelino, Duda Beat e Matha V.

Com pegada oitentista, o CD traz um tom tragicômico em suas letras ao abordar o "climão" -que pode ser entendido como uma situação constrangedora.

"Ano passado foi muito difícil para todo mundo. Entramos em uma grande noite de climão. O disco é isso: vamos afundar, mas vamos afundar rindo. Ou dançar chorando."

Sempre com um caderninho na mão, Letrux diz ser uma "observadora do cotidiano". Durante o processo de criação do novo projeto, resgatou "embriões musicais" que havia produzido em diferentes momentos da vida.

Coisa Banho de Mar

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Mavi Morais/Divulgação
A cantora Letícia Novaes apresenta seu novo projeto,
Indicado a revelação do ano pela APCA, Baco Exu do Blues mostra canções de seu primeiro CD

Baco Exu do Blues mistura em CD rap e música brasileira

Aos 21 anos, o rapper baiano Diogo Moncorvo, o Baco Exu do Blues, não consegue dimensionar o alcance que teve seu disco de estreia, "Esú", lançado em setembro.

Posicionado na lista dos 50 melhores discos de 2017 pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), "Esú" mistura trap, música brasileira e rap. Como influências, o rapper cita Nação Zumbi, Tom Zé, Racionais MC's e Novos Baianos –esta facilmente reconhecida na faixa-título.

Um dos pontos altos do trabalho é a canção "Te Amo Disgraça", também indicada pela APCA (desta vez, como música do ano). Nela, o artista tenta desconstruir o "mito do amor fofinho e do relacionamento amoroso" e apresentar o carnal sem associá-lo a uma visão pejorativa.

É a dualidade entre o sagrado e o profano que dá o tom. Na capa, inclusive, o artista propõe uma reflexão acerca de um jogo de palavras com "Esú" (orixá africano Exu) e "Jesus". "São deuses humanos que desceram pra andar com a gente. Agora, por que um é demonizado e o outro 'humanificado'?"

Nascido em Salvador, ele não tem planos de deixar a cidade. "Muito do processo da Bahia não ser um polo gigante da música é porque nossos grandes artistas saíram daqui. Eu quero ajudar esse mercado e a forma de fazer isso é estando aqui".

En Tu Mira

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A Volta pra Casa

RINCON SAPIÊNCIA
Presente há alguns anos na cena do rap, foi só em 2017 que o MC da zona leste de SP lançou o primeiro disco da carreira, "Galanga Livre". Com influências das músicas africana, eletrônica e jamaicana, o álbum com 13 músicas traz letras que abordam a consciência e a valorização da afrodescendência no Brasil contemporâneo. O CD reúne canções já conhecidas pelo público, como "Ponta de Lança (Verso Livre)", e inéditas.

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O Grave Bater

MC KEVINHO
Segundo levantamento feito pela Folha no caderno especial "Música Muito Popular Brasileira", o MC foi o artista da cena de funk paulista com maior número de execuções no YouTube entre 2014 e 2017 (com 2,8 bilhões de plays na plataforma digital). Nascido em Campinas, Kevinho, 19, é conhecido pelos hits "Olha a Explosão", "Encaixa" e "O Grave Bater" e acumula parceria com artistas como Matheus e Kauan, Léo Santana e Naiara Azevedo.

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Hear Me Now

ALOK
O DJ e produtor Alok, 26, tornou-se o primeiro brasileiro a figurar entre os 30 artistas mais ouvidos do Spotify ao redor do mundo, impulsionado por "Hear me Now", música em parceria com Bruno Martini, reproduzida mais de 100 milhões de vezes na plataforma de streaming. Vindo de uma família de artistas da cena de música eletrônica, o goiano foi eleito pela revista "Forbes" como um dos brasileiros com menos de 30 anos mais influentes do país em 2017.

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Oyá Tempo

LUIZA LIAN
Depois de dois anos de seu disco de estreia, homônimo, a cantora de São Paulo lançou em março o álbum visual "Oyá Tempo", pelo selo Risco –surgido como um coletivo de bandas paulistanas da cena independente. O trabalho traz composições e cânticos criados a partir de influências da umbanda e é envolto por uma atmosfera eletrônica, sem deixar de lado uma mistura de trip-hop e a música brasileira.


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