Folha de S. Paulo


Com álbum previsto para 2018, IZA deslancha carreira com hit 'Pesadão'

IZA, 26, sobe ao palco do Allianz Parque, em São Paulo, em frente a 45 mil pessoas que aguardavam o show do Coldplay em novembro deste ano.

Na plateia, parte do público observava curiosa, parte não dava muita bola, ambas sem saber ao certo quem era a garota que havia sido escolhida para a abertura do megaespetáculo dos britânicos –na noite seguinte, a mesma função ficaria a cargo da popstar inglesa Dua Lipa.

"É parecida com a [cantora e compositora de funk] Ludmilla", diz uma garota. "Meu professor de dança coloca a música dela no início de toda aula", diz outra.

De cabelos trançados, bota preta entrelaçada até o joelho e uma espécie de quimono vermelho preso com um espartilho, a carioca canta meia dúzia de canções autorais, mas ganha o público com sucessos de Rihanna, uma de suas maiores referências –"Bitch Better Have My Money" e "Rude Boy".

"Comecei a chorar feito uma criança quando eu saí, bebi champanhe com minha equipe e fui ver o Coldplay tocar. Pensei: 'Meu Deus, o que eu fiz? Olha onde eu tava'", lembra em entrevista à Folha.

Naquela época, a cantora começava a despontar com "Pesadão", lançado em outubro em parceria com Marcelo Falcão, tornando-se um marco em sua carreira –até o fechamento desta edição, a faixa contava com 37 milhões de visualizações no YouTube.

Com o hit, IZA conquistou lugar entre as 50 músicas mais tocadas em serviços de streaming de áudio, como o Spotify, e nas rádios brasileiras.

Segundo a Crowley, que afere execuções em rádios a cada semana, a canção atingiu o segundo lugar entre as mais tocadas no Rio de Janeiro e o terceiro em São Paulo. A procura por suas músicas em todos os canais viu um aumento que ainda persiste.

Editoria de arte/Folhapress

'TOCA GUNS'

Três anos antes, IZA não dava sinais de que se tornaria um nome no pódio de cantoras pop brasileiras. Seu primeiro show, em um bar no bairro carioca do Recreio, foi um desastre. Ela conta que usou todo o cachê para alugar equipamento para cantar no local, que não fornecia a estrutura.

"Tinha um aniversário de motoqueiros bem na minha frente e eles ficavam: 'toca Guns [N'Roses], toca Eric Clapton, toca Red Hot [Chilli Peppers]', e eu cantando Justin [Bieber], Beyoncé, Rihanna, não sabia o que fazer. Foram quatro horas assim. E ainda tinha uma mesa cheia de amigo meu para me dar apoio", conta, rindo.

De lá pra cá, IZA fechou contrato com a Warner e virou queridinha de festivais: fez dupla com CeeLo no Rock in Rio; pocket show no Mimo, em Paraty; apresentação surpresa com AlunaGeorge no Popload Festival, em São Paulo, e será atração do Planeta Atlântida, que acontece em fevereiro em Xangri-lá, no Rio Grande do Sul.

As conquistas são fruto de articulações entre ela, seu empresário, Rafael Rossato, e executivos da Warner Music com players do mercado.

ISABELA

Nascida em Olaria, zona norte do Rio, para onde retornou aos 12 anos, Isabela Lima passou a infância em Natal, no Rio Grande do Norte, por causa do trabalho do pai.

Filha de um primeiro oficial de náutica da Marinha Mercante e de uma professora de música e artes, IZA cresceu em uma família de classe média que apreciava a música. Estudou em escolas particulares, nas quais a mãe lecionava, e formou-se em publicidade na PUC-Rio.

Por frequentar espaços em que negros não eram a maioria, ela diz ter percebido o preconceito cedo, ainda que não o entendesse a fundo. "Eu era a única negra na escola ou na sala, era sempre muito diferente de todo mundo. Era um E.T. Sempre fui muito popular, vamos deixar isso claro, nunca fui uma criança excluída, mas sempre sofri com preconceito, com racismo", diz.

Ela lembra que só na quinta série foi considerada pela primeira vez uma das garotas mais bonitas da sala.

"Eram 20 garotas, eu fiquei em 19º lugar porque entrou o quesito simpatia naquele ano. Eu ganhei zero em vários quesitos, mas em simpatia eu era dez."

O empoderamento –como mulher e negra– ela só encontrou aos 17 anos, após uma tarde em que passou chorando na frente do espelho. Agora, IZA fala sobre esse e outros temas libertários em suas composições.

Ela trabalhava na equipe de marketing de um coworking descolado quando decidiu largar o emprego para dedicar-se à carreira de cantora. Até então, ela, católica, cantava em batizados, casamentos, festas de debutante e em igrejas aos domingos -até hoje diz carregar uma Bíblia e um terço aonde vai.

"Naquela época meu pai estava ganhando muito bem e isso me impulsionou para largar o emprego, pensei 'pô, não pago nada em casa, não preciso dessa grana agora'", lembra. "Uma semana depois, ele saiu de casa."

Após a separação dos pais e sem o seu salário, IZA conta que as finanças começaram a ficar apertadas, mas que nunca lhe faltou nada. "A gente teve que rebolar, eu e minha mãe fizemos sanduíche natural para vender na escola, isso segurou as contas de água e luz por um ano."

Sem dinheiro para investir em sua nova carreira, a formação em publicidade foi sua principal artimanha. Fechou parceria com um estúdio, pegou uma câmera emprestada de um amigo, trocou show por roupas de grife etc. "Sempre fui no diálogo, isso me ajudou muito no início."

Seu primeiro passo foi gravar covers de músicas de suas cantoras favoritas e postá-los em seu canal no YouTube –o mais antigo, de três anos atrás, é uma dobradinha de "Flawless", de Beyoncé, e "Rude Boy", de Rihanna.

Foi com um desses covers, o de "Hello", de Adele, que ela conquistou um contrato com a major. Mandou para um executivo da Warner, que a convidou como suplente de Ludmilla em shows ao vivo.

Com a gravadora, lançou as autorais "Quem Sabe Sou Eu", "Te Pegar", "Esse Brilho É Meu", "Vim pra Ficar" e "Pesadão", mas somente a última deve integrar seu álbum de estreia, que deve ser lançado, contendo outras 13 novas faixas, em 2018.

"Quero ter uma carreira muito longa, vitalícia, imortal, eu quero ser lembrada depois que eu partir e isso é um trabalho muito longo. Eu 'tô' mirando nisso, eu não 'tô' mirando em streaming, eu não 'tô' mirando em views."

Pesadão

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EM 2017
Principais marcos

23 de setembro
Participa do show de CeeLo no Rock in Rio, cantando "Fool for You", do músico americano, e "Earth Song", de Michael Jackson

5 de outubro
Lança o hit "Pesadão", com participação de Marcelo Falcão e influência do reggaeton

7 de novembro
Cantora faz show para 45 mil pessoas em abertura da turnê do Coldplay no Allianz Parque

15 de novembro
Canta em apresentação surpresa da dupla de música eletrônica AlunaGeorge no Popload Festival, no Memorial da América Latina


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