Folha de S. Paulo


No país, 1/3 dos usuários de aparelhos móveis paga por serviços de streaming

Um dos poucos levantamentos independentes sobre serviços como a Netflix no Brasil, a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box registrou um salto de 24% para 32%, de junho para dezembro, entre os usuários de aparelhos móveis que pagam por entretenimento.

A Netflix segue na frente, como o serviço de streaming pago com maior penetração, 64% dos entrevistados, oscilando cinco pontos para cima no último ano.

Ela é seguida pelo serviço de música Spotify, com 19% e oscilação de cinco pontos para baixo no período.

Julia Terjung/Divulgação
Louis Hofmann na 1ª temporada de 'Dark', da série alemã de suspense da Netflix
Louis Hofmann na 1ª temporada de 'Dark', da série alemã de suspense da Netflix

Coordenador da pesquisa e editor do site setorizado Mobile Time, Fernando Paiva aponta como uma das razões para o crescimento de 8% entre aqueles que se declaram assinantes de algum serviço pago "o amadurecimento do usuário brasileiro de smartphone".

Mais de metade dos entrevistados, segundo o levantamento, têm smartphone há mais de três anos. A pesquisa ouviu, ao longo do último mês, 1.987 brasileiros que acessam internet e têm smartphone. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

"De forma geral, o que está ocorrendo é a digitalização do entretenimento", acrescenta Paiva. "Vale para tudo, todas as novas formas digitais de se entreter. E é uma coisa que está acontecendo no mundo inteiro."

Para o consultor Antonio Athayde, um dos criadores da Net e da Globosat, o mais significativo da pesquisa é confirmar no país "o fenômeno em si, o novo hábito, de se assistir vídeo, qualquer coisa, até os YouTube da vida, na hora em que o consumidor quer e onde ele quer".

A ampliação do domínio da Netflix em entretenimento pago no Brasil vai além dos cinco pontos, segundo o coordenador da pesquisa, "porque está crescendo a própria base de smartphones e, além dela, a base de quem tem entretenimento pago".

A Netflix não divulga dados de audiência ou assinatura no país, onde estreou há seis anos. Analistas avaliam que o Brasil é hoje seu terceiro mercado, depois de EUA/Canadá e Reino Unido e à frente da Alemanha.

Consultorias ouvidas pela Bloomberg no início do ano estimaram o número de assinantes brasileiros da Netflix em 5 milhões. Posteriormente, a Ancine, agência que regula o audiovisual no país, afirmou que suas assinaturas superaram as da maior operadora de TV paga, a Net.

Pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box

'GLOBOFLIX'

Tanto Paiva como Athayde alertam que o avanço aparentemente lento da Globo Play, serviço lançado há dois anos pela Rede Globo, não retrata a sua penetração real. Como ele é em grande parte de acesso gratuito, o alcance vai muito além dos assinantes de entretenimento pago.

De todo modo, a nova estratégia definida pelo Grupo Globo, de reunir conteúdos originalmente de TV aberta e paga, inclusive Telecine, num único serviço de entretenimento pago, deverá ter impacto na pesquisa.

O novo serviço poderá até manter o nome Globo Play, mas seu apelido interno é Globoflix. Segundo "O Globo", entre as séries que já vêm sendo produzidas especificamente para o streaming, sem previsão de veiculação em TV aberta ou paga, estão "Assédio" e "Ilha de Ferro".

"Assédio", dirigida por Amora Mautner e protagonizada por Antonio Calloni, vai abordar o caso Roger Abdelmassih. "Ilha de Ferro", dirigida por Afonso Poyart e protagonizada por Sophie Charlotte e Cauã Reymond, vai correr em torno de uma plataforma de petróleo.

"Com produção brasileira, certamente, a iniciativa do Grupo Globo para as OTTs [sigla para 'over the top', jargão do setor para streaming pago] tem muita chance de sucesso", afirma Athayde, avaliando que a estratégia "está no caminho certo".

Acrescenta porém que "o problema é que os concorrentes agora são os pesos pesados da indústria mundial –Netflix, HBO, Amazon, sem esquecer a Disney, depois da compra da Fox". E que "a competição vai se acirrar quando essas potências se aventurarem na compra de direitos de eventos ao vivo, esporte em particular".


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