Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Garotas esbanjam carisma, mas longa carece de bom roteiro

Divulgação
Cena do documentário 'Todas as Meninas Reunidas, Vamos Lá!
Cena do documentário 'Todas as Meninas Reunidas, Vamos Lá!'

TODAS AS MENINAS REUNIDAS, VAMOS LÁ! (regular)
DIREÇÃO Carol Fernandes
PRODUÇÃO Brasil, 2017, livre
QUANDO em cartaz, veja salas e horários de exibição

*

Num momento marcado pela propalada "convergência midiática", em que os filmes circulam com liberdade entre cinema, televisão e internet, nem sempre há consenso sobre o que distingue reportagem, documentário e vídeo institucional.

Na vida com pessoas de verdade e com a realidade em tese desprovida de ficção, os três formatos podem de fato ter as fronteiras borradas —o que, em si, não representa um problema.

Mas, em qualquer um desses registros, o bom filme só acontece quando há investimento na estrutura, quando o dispositivo de filmagem resulta de decisão consciente e o roteiro consegue instaurar algum tipo de progressão dramática e narrativa.

"Todas as Meninas Reunidas, Vamos Lá!", documentário de Carol Fernandes sobre a história e os princípios do Girls Rock Camp, reúne imagens e entrevistas realizadas em diferentes edições do acampamento musical para meninas criado em 2013.

O tema por si só é rico e curioso. Como meninas de 7 a 17 anos aprendem, em uma semana, a tocar bateria, guitarra, baixo e teclado? Por que os garotos não participam do programa? De onde surgiu a ideia?

No embalo da trilha sonora composta pelo punk rock das campistas e das instrutoras, essas e outras questões vão sendo agradavelmente respondidas por garotas que esbanjam carisma e graça.

Onde estaria o problema, então? Bem, ao longo dos 80 minutos do filme, tem-se a sensação de que o princípio condutor da montagem é basicamente o empilhamento de entrevistas.

Estas, embora tragam belos momentos, acabam por se revelar repetitivas. Falta ao longa uma estrutura definida e criatividade no ordenamento do material. Quem disse que documentário não precisa de arco dramático, estrutura narrativa, bom roteiro?

Apesar das carências, "Todas as Meninas Reunidas, Vamos Lá!" consegue colocar o espectador dentro do mundo paralelo do Girls Rock Camp.

O programa de férias criado em Sorocaba, interior paulista, pela socióloga e guitarrista Flavia Biggs a partir do modelo desenvolvido em Portland, nos Estados Unidos, põe em prática os fundamentos do feminismo contemporâneo: sororidade, empoderamento, construção da autoestima, liberdade.

Em uma semana, além de aprenderem a tocar um instrumento, comporem uma música coletivamente e preparem um show, as campistas passam por oficinas de defesa pessoal, ioga, skate, história das mulheres no rock etc.

Longe da rivalidade dos garotos, as jovens roqueiras se soltam, conquistando não só novas habilidades, mas principalmente autoconfiança.

Esse é o discurso das instrutoras e participantes. O filme, infelizmente, não vai além dele. Há uma dependência excessiva do formato de entrevistas, realizadas quase exclusivamente no contexto dos acampamentos, o que dá um tom quase oficial às declarações. É pena.

Depois de serem ouvidas repetidamente, sem aprofundamento, as palavras de ordem do novo feminismo acabam por soar enfraquecidas.

Assista ao trailer de 'Todas as Meninas Reunidas, Vamos Lá!'

Assista ao trailer de 'Todas as Meninas Reunidas, Vamos Lá!'


Endereço da página:

Links no texto: