Folha de S. Paulo


Coelhos suicidas inspiram quadrinhos sarcásticos de britânico Andy Riley

Qual é a primeira coisa que vem à cabeça quando você pensa em coelhos? Páscoa? Cenouras? A resposta do britânico Andy Riley é um pouco diferente: suicídio.

Entre 2003 e 2010, ele se dedicou a desenhar uma série de coelhos se matando das formas mais bizarras.

Ao longo das 96 páginas de "O Livro dos Coelhos Suicidas", publicado em 2003 no Reino Unido e lançado no mês passado no Brasil pela editora Todavia, coelhos fofinhos aparecem em tirinhas curtas, geralmente de uma só imagem.

Eles entram na fila do bungee jumping segurando tesouras, tentam quebrar com um martelo um tanque cheio de tubarões e relaxam ao sol enquanto outros bichos fazem fila para a Arca de Noé.

Mas por que coelhos? O próprio Riley não sabe.

"Nunca pensei sobre isso, e é melhor que continue um mistério. Os cartuns são muito mais sobre resolver problemas e encontrar soluções inusitadas do que sobre tristeza ou pensamentos suicidas", diz em entrevista à Folha.

A ideia do livro veio de uma vez só quando pensou no título: "O Livro dos Coelhos Suicidas". Ele diz só ter parado para se perguntar sobre o que estava fazendo quando começou a segunda obra da série, ainda não lançada no Brasil.

Apesar de parecer irônico e um pouco errado pensar que pequenos coelhinhos fofos queiram se matar, Riley conta que desde cedo conectou os bichinhos à morte.

"Quando era criança, minha família vivia perto de uma estrada movimentada, e eu sempre via pequenos corpos atropelados por caminhões. Um coelho de estimação que tive também foi levado por uma raposa", recorda.

RECUSAS

De início, a ideia não foi muito popular entre as editoras britânicas. Ao longo de dois anos, os originais foram recusados continuamente por todas as grandes publicadoras por não parecerem comerciais o suficiente.

Em uma época em que a internet ainda não era muito disseminada, publicar os quadrinhos on-line também não era alternativa válida.

Hoje, com coelhinhos espalhados por duas dezenas de países, Riley imagina que o processo de publicação teria sido diferente se a ideia tivesse vindo mais tarde.

"Hoje eu teria que publicar online primeiro. Existe uma chance muito maior de as editoras aceitarem um quadrinho que já é viral na internet. É muito menos arriscado."

O risco que a editora britânica Hodder and Stoughton correu pareceu compensar: desde que o primeiro dos quatro volumes dos coelhinhos suicidas foi publicado, as tirinhas de Riley trilharam o caminho oposto dos autores de webcomics que tentam chegar ao impresso.

As tentativas de suicídio engenhosas também começaram a circular em massa pela internet.

O sucesso foi tanto que, em 2005, a editora, via Lei dos Direitos Autorais do Milênio Digital, pediu para que o Google parasse de indexar sites que escaneavam os livros de Riley ilegalmente.

Apesar de receber uma série de mensagens de carinho dos fãs —alguns, inclusive, contam terem superado períodos de depressão rindo da esperteza dos coelhinhos—, ele desagradou uma série de pessoas ao desenhar cenas de humor negro com animais.

Em 2007, uma mãe se recusou a devolver a cópia do livro emprestada pelo filho na biblioteca da escola, afirmando que ia queimá-la.

O Livro dos Coelhos Suicidas
Andy Riley
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Para os que o acusam de ser cruel com os animais, o quadrinista argumenta que a morte é autoinfligida.

Já pelos que odeiam especificamente o aspecto do suicídio, ele diz ter mais simpatia. Para não passar do ponto, estabeleceu que os coelhinhos nunca podem machucar outro ser vivo no processo.

"Acredito que existem limites e que isso não é necessariamente algo ruim. Não sei dizer quais são até que começo a desenhar e percebo que uma ideia é cruel. E, é claro, temos gamas de aceitação diferentes. Fazemos piadas com nossos amigos que não faríamos com nossas mães."

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O LIVRO DOS COELHOS SUICIDAS
AUTOR: Andy Riley
EDITORA: Todavia
QUANTO: R$ 29,90 (96 págs.)


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