Folha de S. Paulo


crítica

Documentário de 'Titanic', 20, prefere lado 'CSI' do desastre

Reprodução
James Cameron (dir.) durante as filmagens de
O diretor James Cameron (à dir.) durante filmagens de 'Titanic', em cena do documentário

TITANIC: 20 ANOS DEPOIS
(TITANIC: 20 YEARS LATER) (regular)
DIREÇÃO Thomas C. Grane
ONDE Apple TV e Nat Geo Play

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"Titanic: 20 Anos Depois", documentário feito para a National Geographic e disponível na Apple TV, poderia seguir dois caminhos. O primeiro seria se concentrar na história real, no naufrágio.

O outro seria uma "por trás das cenas" sobre a filmagem cheia de imprevistos, com confusões no set, que rendeu notas na imprensa durante a produção, realizada há mais de 20 anos (o longa foi produzido em 1996, lançado em 1997), antes portanto de "Titanic", o filme, virar o fenômeno que virou.

Trailer de Titanic


O documentário, produzido por James Cameron e dirigido por Thomas Grane, fica no meio do caminho, e não satisfaz os fãs curiosos nem por uma coisa nem por outra.

Desde que fez o filme, o diretor já mergulhou 33 vezes até o local onde está o navio gigante que afundou 105 anos atrás. Ele é obcecado pelo assunto e juntou um grupo de cientistas para testar a veracidade de detalhes de sua refilmagem. O interesse dele é saber, com as tecnologias disponíveis hoje, o que foi contado com precisão e o que não.

O resultado é um documentário algo enfadonho, com experimentos e reproduções produzidos para ilustrar exatamente como o navio afundou, ou quanto demoraria para um barco salva-vidas chegar à água do mar e até que tempo levaria para um homem cortar com uma faca de serrinha a corda que o segurava.

Nada de Jack (Leonardo DiCaprio), nada de Rose (Kate Winslet). O casal mais icônico do cinema recente fica de fora dessa história.

No lugar, entram até personagens interessantes, como o oceanógrafo Bob Ballard, que descobriu os restos do navio mais de 30 anos atrás enquanto fazia parte de uma missão secreta para a Marinha norte-americana.

Mas também estão lá os familiares dos passageiros que sobreviveram ou que morreram a bordo do navio.

Se é emocionante para o diretor encontrar as pessoas reais que descenderam de quem estava no luxuoso navio, o resultado não se traduz para a audiência.

O que não é explorado é o fenômeno social, como, cinemas do interior do Brasil e de outros países do mundo reabrindo suas portas anos depois de fechados apenas para poder exibir o filme, a bilheteria recorde que foi catapultada por adolescentes que viram o longa várias vezes.

Onde estão eles hoje em dia? Passadas duas décadas, conhecer o efeito de "Titanic" em suas vidas adicionaria contexto e gosto a "20 Anos Depois". Em vez disso, o documentário fica parecendo um caso real de "CSI", que poderia ser resolvido hoje com tecnologias modernas.

Com o custo altíssimo de US$ 200 milhões, o longa foi a produção mais cara já feita até então. Na época, ganhou US$ 600 milhões em bilheteria só nos EUA e liderou o ranking dos mais rentáveis até que outro longa de James Cameron, "Avatar", foi lançado em 2009 –arrecadou US$ 760,5 milhões e agora está em segundo, atrás de "O Despertar da Força" (2015), US$ 936,7 milhões.

Em 1998, "Titanic" também foi absoluto na cerimônia do Oscar, com 14 indicações e 11 estatuetas.

Quem sabe no aniversário de 25 anos fiquemos sabendo um pouco mais sobre as filmagens de um dos melhores longas dos anos 1990.


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