Folha de S. Paulo


Homem mais velho é mestre, e mulher é discriminada, diz compositora

Dalton Valério/Divulgação
FILE - In this Dec. 8, 2017 file photo, Anita Hill speaks at a discussion about sexual harassment and how to create lasting change from the scandal roiling Hollywood at United Talent Agency in Beverly Hills, Calif. Hollywood executives and other major players in entertainment have established a commission to be chaired by Hill that intends to combat sexual misconduct and gender inequities across the industry. A statement Friday, Dec. 15, 2017, announced the founding of the Commission on Sexual Harassment and Advancing Equality in the Workplace. (Photo by Willy Sanjuan/Invision/AP, File) ORG XMIT: CAET842
A compositora Jocy de Oliveira, 81, uma das precursoras da arte multimídia no Brasil

Aos 81, a compositora Jocy de Oliveira não para de se reinventar. Uma das precursoras da arte multimídia no país, a paranaense apresentou em outubro um novo trabalho, a ópera "Liquid Voices - A História de Mathilda Segalescu", uma mescla de teatro, música, vídeo e instalação –e também uma mistura de ficção e autobiografia.

No ano que vem, ela pretende lançar um filme que "integra questões cinemáticas e teatrais". "Sempre busquei a invenção em lugar da rotina e continuo na mesma busca", diz a artista.

VIDA BOA
Idade e cultura
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Desde a fase inicial da carreira, Jocy estende suas produções para o campo do teatro. Não procurava na arte convencional um suporte para suas criações, mas inventava a sua própria linguagem.

Foi assim em trabalhos como "Apague Meu Spotlight" (1961), produção com o Teatro dos Sete, companhia dos atores Fernanda Montenegro, Sérgio Britto e Ítalo Rossi, que a compositora considera a primeira apresentação de música eletrônica no Brasil.

MUDANÇA

Aos poucos, o piano, sua formação, foi dando mais lugar às composições. Hoje, ela soma oito óperas e prêmios como os das fundações Guggenheim e Rockefeller e do New York Council on the Arts.

A mudança, diz, pouco tem a ver com a idade, mas com uma "necessidade de buscar mais tempo para o desenvolvimento de meu próprio processo criativo".

"Creio que fazemos as mesmas coisas só que encontramos formas diferentes para nos expressarmos, às vezes mais complexas, às vezes mais simples, o que é bem difícil", continua ela.

"Mas não posso dizer que mudei radicalmente. Apenas espero ter amadurecido e, portanto, aprimorado meu processo de criação."

Trabalhando num meio dominado por homens, a compositora sempre embebeu suas produções da questão da mulher. Diz que foi só depois dos 80 que se deu conta de que sempre precisou lutar de forma independente –e mais incisiva do que os colegas homens– para que suas óperas fossem produzidas por um teatro.

"Na cultura capitalista ocidental, o olhar do outro sobre nós não inclui o respeito e a reverência, sobretudo pela mulher. O homem, com a idade, pode se tornar um mestre, mas a mulher... continua discriminada."

Jocy, no entanto, não apenas se reinventa. Vê o trabalho também como uma fonte de bem-estar. "Meu primeiro recital de piano importante foi aos sete anos de idade no Theatro Municipal de São Paulo. Desde então, a música me acompanhou e não parei. Espero continuar assim enquanto estiver viva."


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