Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Filme revê triângulo amoroso que inspirou criação da Mulher-Maravilha

PROFESSOR MARSTON E AS MULHERES-MARAVILHAS (ótimo)
(PROFESSOR MARSTON AND THE WONDER WOMEN)
DIREÇÃO Angela Robinson
ELENCO Luke Evans, Rebecca Hall, Bella Heathcote
PRODUÇÃO EUA, 2017, 16 anos
QUANDO estreia nesta quinta
Veja salas e horários de exibição

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Neste ano, a Mulher-Maravilhabrilhou em seu filme individual e também ao lado dos marmanjos superpoderosos na estreia da Liga da Justiça no cinema. Agora, um terceiro longa relacionado à heroína amazona dos gibis chega às telas. E é um dos melhores da temporada.

"Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas" é um drama que reconstitui a vida de William Moulton Marston, um professor de psicologia que inventou a personagem e escreveu suas primeiras aventuras, a partir de 1941.

Desde o final da década de 1920, ele vivia com duas mulheres: Elizabeth Marston, com quem era casado, e Olive Byrne, sua amante. Ambas inspiraram sua personagem.

O filme dirigido pela cineasta feminista Angela Robinson, uma das produtoras do bom seriado "L Word" (2004-2009), apresenta uma versão romanceada da trajetória real de Marston. Não foi necessário muito trabalho para criar um roteiro atraente. A vida do psicólogo e quadrinista já foi bastante rica em passagens incríveis.

Em 1925, Marston e a mulher trabalharam na invenção de um detector de mentiras (e tiveram sucesso, marcando bobeira ao não patentear o aparelho).

Para as pesquisas, contrataram a assistente Olive, aluna de Marston.

Espíritos livres, como se definiam, ele e Elizabeth se encantaram pela jovem e começaram um relacionamento a três, em que as mulheres eram bissexuais. Na verdade, embora Marston tenha se interessado por Olive desde a primeira hora, é a paixão da jovem por Elizabeth que dispara de vez a relação deles.

Morando juntos e tendo filhos, aos poucos eles têm seu estilo de vida descoberto por vizinhos e colegas. Isso provoca pressão para que deixem seu trabalho e sua casa.

Apoiadores de causas feministas, os três dividiram as pesquisas e a criação dos quatro filhos com jogos sexuais ousados. A busca por quebrar limites levou o trio a ambientes de perversão sadomasoquista. E, quando perdeu o emprego de professor, pelo escândalo de sua relação com duas mulheres, Marston passou a escrever HQ misturando mitologia grega, feminismo e alguma pornografia.

Os gibis da Mulher-Maravilha tinham quadrinhos de pornô soft, com a heroína volta e meia amarrada e torturada pelos vilões. Essa carga erótica foi quase totalmente excluída da produção das revistas depois da morte de Marston, em 1947, de câncer.

Os ingredientes mais curiosos do filme, e às vezes não exatamente fiéis à história real, são as referências da vida pessoal que Marston teria inserido nas aventuras da Mulher-Maravilha no gibi.

Ele não teve um avião de brinquedo transparente, como o que aparece na tela para supostamente inspirar a criação do avião invisível que a heroína pilota nos quadrinhos. Mas o uniforme dela foi realmente desenhado a partir de roupas de couro estilo dominatrix que Olive vestia para suas transas.

A melhor sacada é o laço mágico da Mulher-Maravilha, aquele que obriga as pessoas presas nele a dizer somente a verdade. O item é uma mistura do detector de mentiras que o casal Marston criou com as cordas que o trio usava para se amarrar em suas brincadeiras de dominação.

Num roteiro de cenas desafiadoras, o elenco vai bem. O galês Luke Evans, como Marston, e a novata australiana Bella Heathcote, no papel de Olive, estão ótimos.

Mas quem rouba a atenção é a inglesa Rebecca Hall, como Elizabeth. Charmosa e bonita, sem se encaixar nos padrões estéticos convencionais, é o dínamo sexual de um filme que realmente excita a plateia.

Falando de gibis, "Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas" é diversão sexy e engenhosa para adultos. Ao lado do blockbuster "Mulher-Maravilha", é um dos grandes filmes deste ano.


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