Folha de S. Paulo


Mostra dedicada ao Tunga encerra ano voltado para sexualidade no Masp

Adriano Vizoni/Folhapress
Obra da série 'Morfológicas' do Tunga (1952-2016)
Obra da série 'Morfológicas' do Tunga (1952-2016)

Depois de chamar a atenção da mídia com a exposição "Histórias da Sexualidade" em outubro, o Masp encerra o ciclo no qual discutiu o tema ligado ao erotismo –iniciado em 2016– com uma mostra individual do artista plástico Tunga (1952-2016).

As obras estarão expostas ao público a partir desta sexta (15), no subsolo do museu, mesmo espaço em que foi exibido o acervo de Pedro Correia de Araújo, entre setembro e novembro.

Diferentemente de Araújo, Tunga não possui obras de fácil interpretação. Seu trabalho envolve tipos específicos e particulares, classifica o curador Tomás Toledo.

"Ele explorava a sexualidade forma mais metafórica e complexa, trazendo outras construções que envolviam materiais, contos e mitologia", explica Toledo.

Sem cronologia ou divisão de temas, a mostra reúne as obras por afinidades de assuntos e mescla famílias de trabalhos construídas pelo artista. Uma delas, da série "Morfológicas", foi agora doada ao acervo do Masp.

Dedos e dentes são recorrentes em seu trabalho. Para o artista, essas partes do corpo eram bastante erotizadas.

Os dedos entram nessa classificação por serem os elementos com maior terminações nervosas depois das zonas erógenas.

Além disso, os dedos têm poder de desempenho sexual, "que podem assumir papel do pênis em algumas situações", explica a também curadora Isabella Rjeille.

Já os dentes eram considerados por Tunga um osso erógeno, porque é a única estrutura óssea externa e que pode ser sentida pela língua.

Para representar o constante contato com a pele, muitas obras são revestidas ou desenhadas com maquiagem, por exemplo nas pinturas de "Eixos Exógenos" (1986-2000).

Apesar de o tema ter sido palco de polêmicas no segundo semestre de 2017, a exposição terá classificação livre, já que não há obras explícitas ou que incitem a violência.

No caso de alguns desenhos que reproduzem cenas sexuais, haverá avisos, segundo os curadores.

PRETO NO BRANCO

Aos 22 anos, em 1974, Tunga teve a sua primeira exposição individual no MAM-Rio.

Era intitulada "Museu da Masturbação", mas nem o título nem os desenhos chocaram à época, tampouco gerou um movimento "conservador como acontece hoje em dia, sendo que foi aberta em plena ditadura militar", comenta o curador.

Na verdade, a composição despertou o interesse "de como o desenho com uma forma tão abstrata poderia carregar uma conotação sexual", analisa Toledo.

Os desenhos que abordam o assunto como simbologia e são interpretados como "erotismo mental" estarão disponíveis ao público na primeira ala da exposição.

"Foi uma maneira diferente de tratar um tema que era tão preto no branco", explica a curadora.

TUNGA: O CORPO EM OBRAS
QUANDO abertura nesta qui. (14), às 20h, para convidados; para o público de 15/12 até 11/3; ter. a dom. das 10h às 18h e qui., das 10h às 20h
ONDE Masp, av. Paulista, 1.578, tel. (11) 3149-5959
QUANTO R$ 30 (inteira)


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