Folha de S. Paulo


análise

Famosa pelo tipo grã-fina na TV, Eva Todor teve sólida carreira no teatro

Ao longo do século 20, o Brasil teve a sorte de receber um fluxo contínuo de atores e diretores europeus. A maioria veio durante ou logo após a Segunda Guerra, como os italianos Nydia Licia e Gianni Ratto ou os poloneses Ziembinski e Berta Loran.

Eva Todor —que morreu aos 98 anos na manhã deste domingo (10), no Rio de Janeiro— chegou ainda antes, em 1929, com apenas 10 anos de idade. Nascida na Hungria em uma família judia ligada ao meio artístico, ela gostava de dizer que nunca escolheu ser atriz: escolheram por ela.

A pequena Eva, que já era bailarina na Ópera Real de Budapeste, voltou a estudar balé clássico no Teatro Municipal do Rio com Maria Olenewa. E trocou, por razões óbvias, seu sobrenome de nascença —Fódor— por Todor, que a acompanharia pelo resto de sua vida.

Tornou-se famosa em todo o Brasil tardiamente, em 1977, ao interpretar seu papel mais icônico na TV: a empresária Kiki Blanche, dona de um badalado salão de beleza, na novela "Locomotivas", um grande sucesso da faixa das 19 horas da Globo assinado por Cassiano Gabus Mendes.

Kiki Blanche era uma socialite expansiva e vaidosa, misturando uma certa futilidade com a habilidade com que conduzia seu negócio. Acabou sendo a matriz para quase todos os personagens que Eva Todor fez na Globo.

Só que ela era capaz de muito mais. Dona de uma extensa carreira teatral, começou fazendo comédias leves, aproveitando o excelente timing cômico. Mas também se destacou em dramas como "De Olho na Amélia", de Georges Feydeau, que lhe valeu o prêmio Molière, em 1969.

No cinema suas participações foram poucas, espalhadas ao longo do tempo. Mas protagonizou, junto com Oscarito, uma cena antológica na chanchada "Pão, Amor e... Totobola", de 1960, em que ele finge ser a imagem dela refletida em um espelho.

Eva Todor era também uma das últimas remanescentes dos atores que tiveram suas próprias companhias teatrais, que excursionavam por todo o Brasil e até por Portugal.

Sua carreira foi longa e estável, sem grandes revezes, acumulando sucessos no palco e na TV. Mas os últimos anos foram difíceis. Não conseguiu terminar as novelas "Caminho das Índias" (2009) e "Salve Jorge" (2012), ambas de Glória Perez, por problemas de saúde. Desde esta última, não apareceu mais na telinha.

Apesar de ter chegado ainda criança ao Brasil, Eva Todor jamais perdeu o ar de "velho mundo", presente até mesmo em sua dicção peculiar —que não chegava a ser um sotaque, mas lhe dava todo um charme. Com ela se vai um estilo muito próprio de representar, além de uma simpatia irresistível.


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