Folha de S. Paulo


'A morte da pintura morreu', diz o pintor Rodrigo Andrade

Integrante do Casa 7, grupo de artistas dos anos 1980 que ficaram conhecidos pelo pioneirismo no país no neoexpressionismo, Rodrigo Andrade, 55, ouve desde o início da carreira como artista plástico que a pintura iria acabar. Ou melhor, que iria morrer.

A frequência com que ouvia tal afirmação era tanta que hoje ele acredita que "a morte da pintura morreu".

"A arte atingiu uma espécie de vocação moderna que é a liberdade. Agora, não há nada que previamente seja necessário para ser artista. Você que dê conta de fazer o seu lance virar alguma coisa, seja lá o que for", diz o pintor.

Com mais de 30 anos de carreira, Andrade tem reunidas obras que marcaram a sua carreira para uma retrospectiva, aberta neste sábado (9) na Estação Pinacoteca, que ilustra suas diferentes fases, do abstrato ao realismo.

Enquanto gesticula e explica seu processo criativo, Andrade lamenta não conseguir encaixar todas as obras que queria entre os mais de cem quadros na mostra. "Montagem é difícil", suspira. "É uma puta dança das cadeiras."

Com formas e aspectos diferentes, desde o retrato de paisagens a quadros compostos por formas geométricas, sua marca registrada aparece na grande maioria, senão em todas as pinturas: Andrade utiliza volumes grossos de tinta para trazer uma sensação de profundidade nas obras.

A técnica, ele contou, apareceu quando passou a sentir que "faltava alguma coisa" em suas pinturas.

A solução encontrada foi a aplicação de tintas com estêncil. Segundo o artista, ele conseguiu um resultado que mescla o "ultra ilusionista" com a "profundidade da atmosfera".

Com o pioneirismo e a abertura do mundo artístico para novas ideias, Andrade e os artistas que compunham a Casa 7, como Nuno Ramos, Fabio Miguez, Carlito Carvalhosa e Paulo Monteiro, influenciaram uma geração, como Ana Prata, Rodrigo Bivar e Lucas Arruda.

"Nos anos 1970 houve um certo esgotamento da arte conceitual. Nós surfamos nessa onda."

'PÉ NO SACO'

Como um dos precursores do neo-expressionismo -marcado por cores fortes e presença visual da emoção-, ele afirma que o foco da sua arte é puramente visual.

"Estou interessado na forma e na visualidade, inclusive, na visão alienante da arte", diz o pintor, que considera arte política "um pé no saco".

Ele classifica a tendência de se falar de política e cultura em obras de arte como "um pouco opressora".

Mesmo não gostando tanto, Andrade conta que se manifestou contra obras que foram censuradas ao longo do semestre, como a apresentação do MAM-SP em que uma menina interagiu com um coreógrafo nu e contra a qual muitos se manifestaram.

"Escrevi uma carta ao nosso prefeito Doriana [trocadilho que mistura a marca de margarina 'Doriana' ao nome do prefeito de São Paulo, João Doria]. Achei tudo aquilo uma palhaçada. O Brasil se fodeu depois do impeachment, estamos passando por uma fase de obscurantismo."

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RODRIGO ANDRADE: PINTURA E MATÉRIA
QUANDO a partir deste sábado (9) até12/3; seg. e qua. a dom.: 10h às 17h30
ONDE Estação Pinacoteca, lgo. General Osório, 66, tel. (11) 3335-4990
QUANTO grátis


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