Folha de S. Paulo


Príncipe herdeiro saudita comprou 'Salvator Mundi' por procuração

O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, é o verdadeiro comprador da "Salvator Mundi", a obra de arte mais cara já vendida na história, de acordo com o serviço de inteligência dos EUA e fontes sauditas ligadas ao universo das artes. A revelação foi feita nesta quinta (7) pelo jornal "The Wall Street Journal".

A tela de Leonardo Da Vinci, que retrata Cristo com uma esfera de cristal na mão, foi vendida em um leilão em Nova York no dia 15 de novembro por US$ 450,3 milhões.

O príncipe Bader bin Abdullah bin Mohammed bin Farhan al-Saud, figura bem menos conhecida internacionalmente e de um ramo menos importante da família real, mas próximo do herdeiro do trono, havia sido declarado como o vencedor do leilão pelo jornal "The New York Times", que citava documentos da negociação.

Fayez Nureldine/AFP
O príncipe herdeiro saudita Mohamed bin Salman, 32
O príncipe herdeiro saudita Mohamed bin Salman

Mas o príncipe Bader foi apenas um procurador na negociação. Sem um histórico de colecionador de arte, o príncipe Bader levantou suspeitas até de especialistas da Christie's, a casa de leilões que negociou a tela, mesmo após o depósito de US$ 100 milhões necessário para se qualificar a participar do leilão.

O uso de procurador é prática comum por colecionadores que querem permanecer no anonimato.

A aquisição da tela de Da Vinci, que tem sua autenticidade questionada e contraria os preceitos islâmicos, contrasta com o momento na Arábia Saudita.

Mohamed bin Salman, 32, conhecido pelas iniciais MBS, foi nomeado príncipe herdeiro em junho –quem ocupava o posto até então era o príncipe Mohammed bin Nayef. Dizendo lutar contra corrupção no seio da elite local, MBS articulou um expurgo na família real, em uma ação sem precedentes.

"A imagem do príncipe herdeiro gastando tanto dinheiro para comprar uma pintura no momento em que ele lidera uma cruzada anti-corrupção é chocante", afirmou Bruce Riedel, um ex-agente da CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA) e especialista na política saudita, ao "Wall Street Journal".

Autoridades sauditas não responderam aos questionamentos do jornal norte-americano.

A "Salvator Mundi" não deve ir para as paredes do palácio de Mohamed bin Salman imediatamente. Louvre de Abu Dhabi informou no Twitter que o quadro irá para lá, sem citar detalhes.

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Uma obra dessa magnitude costuma atrair multidões a famosos destinos culturais. O Louvre de Paris estima que apenas a "Mona Lisa" seja responsável por atrair 80% de seus 7,4 milhões de visitantes anuais.

A provável ida da pintura para Abu Dhabi também pode ajudar a explicar a motivação política para sua aquisição e estabelece uma nova marca na batalha entre famílias reais do Oriente Médio por relevância cultural.

Por mais de uma década, o Qatar reinou como o mais poderoso centro cultural da região.

Abu Dhabi abriga a nova unidade do Louvre, que foi inaugurada em novembro, e é a capital dos Emirados Árabes Unidos, que aprofundou as relações com a Arábia Saudita durante a ascensão de MBS.

A intenção dos Emirados Árabes Unidos é se consolidar como polo cultural e competir com Qatar.

A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos cortaram relações diplomáticas com o Qatar em junho.


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