Folha de S. Paulo


Peça 'Rasga Coração' foi símbolo da luta contra a censura no Brasil

Folhapress
Cena do filme 'Get me Roger Stone', da Netflix
Raul Cortez em cena da montagem original de 'Rasga Coração', de Vianninha

Derradeira peça de Oduvaldo Vianna Filho (1936-74), "Rasga Coração" sintetiza algumas marcas do dramaturgo: a linguagem popular, o retrato do brasileiro comum e a realidade política e social do país.

É uma das mais aclamadas obras do autor, em especial pelo apuro técnico com que transita entre as lutas políticas do Brasil (da qual o dramaturgo era figura presente) e o homem comum. Também se tornou símbolo contra a censura (foi vetada por cinco anos).

Mas Vianninha não chegou a ver o texto encenado. Começou a escrever a peça, que empresta seu título da canção de Anacleto de Medeiros, em 1971, mas só a concluiu três anos depois, pouco antes de morrer por um câncer no pulmão.

Debilitado, ditava o último ato num gravador. Sua mãe transcrevia tudo a máquina e levava os papéis para o filho fazer correções.

A montagem só veio em 1979, no Teatro Guaíra, em Curitiba. Com direção de José Renato, tinha no elenco nomes como Raul Cortez, Vera Holtz e Ary Fontoura.

A crítica Ilka Zanotto descreveu a semana de estreia como "uma apoteose" em que o público "se recusava a deixar o teatro, com aplausos intermináveis [...], mergulhado numa catarse autêntica preconizada pelo velho Aristóteles".

Recebeu elogios até de Nelson Rodrigues, sempre ultracrítico à dramaturgia de Vianninha. "'Rasga Coração' é uma das mais belas e fascinantes obras-primas do teatro brasileiro. Não posso ser mais conclusivo e definitivo", declarou.


Endereço da página:

Links no texto: