Derradeira peça de Oduvaldo Vianna Filho (1936-74), "Rasga Coração" sintetiza algumas marcas do dramaturgo: a linguagem popular, o retrato do brasileiro comum e a realidade política e social do país.
É uma das mais aclamadas obras do autor, em especial pelo apuro técnico com que transita entre as lutas políticas do Brasil (da qual o dramaturgo era figura presente) e o homem comum. Também se tornou símbolo contra a censura (foi vetada por cinco anos).
Mas Vianninha não chegou a ver o texto encenado. Começou a escrever a peça, que empresta seu título da canção de Anacleto de Medeiros, em 1971, mas só a concluiu três anos depois, pouco antes de morrer por um câncer no pulmão.
Debilitado, ditava o último ato num gravador. Sua mãe transcrevia tudo a máquina e levava os papéis para o filho fazer correções.
A montagem só veio em 1979, no Teatro Guaíra, em Curitiba. Com direção de José Renato, tinha no elenco nomes como Raul Cortez, Vera Holtz e Ary Fontoura.
A crítica Ilka Zanotto descreveu a semana de estreia como "uma apoteose" em que o público "se recusava a deixar o teatro, com aplausos intermináveis [...], mergulhado numa catarse autêntica preconizada pelo velho Aristóteles".
Recebeu elogios até de Nelson Rodrigues, sempre ultracrítico à dramaturgia de Vianninha. "'Rasga Coração' é uma das mais belas e fascinantes obras-primas do teatro brasileiro. Não posso ser mais conclusivo e definitivo", declarou.