Folha de S. Paulo


Crítica

Clássico policial de Agatha Christie ficaria melhor como minissérie

ASSASSINATO NO EXPRESSO DO ORIENTE (bom)
(MURDER ON THE ORIENT EXPRESS)
DIREÇÃO Kenneth Branagh
ELENCO Kenneth Branagh, Michelle Pfeiffer, Johnny Depp e Judi Dench
PRODUÇÃO EUA, 2017, 12 anos
QUANDO estreia nesta quinta (30)
Veja salas e horários de exibição

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Um dos mais esquemáticos romances de mistério da escritora inglesa Agatha Christie (1890-1976), "Assassinato no Expresso do Oriente" parece um jogo. Em um trem parado no meio de uma nevasca, um homem é morto e praticamente todos a bordo são suspeitos.

Fazer um filme a partir dele é basicamente criar uma embalagem atraente para expor as pistas e deixar o espectador exercitar sua veia detetivesca.

O filme dirigido por Kenneth Branagh é belíssimo, embora exagerado no uso de computadores para criar a Istambul de 1934 (de onde parte o trem) e as paisagens geladas das montanhas croatas, onde uma avalanche interrompe a viagem. Dentro dos vagões há um desfile luxuoso de acomodações e comida requintada à disposição de atores famosos e atraentes.

O problema é justamente como administrar tantos personagens em apenas duas horas de sessão. Essa adaptação enfrenta o mesmo problema da versão cinematográfica de 1974: ao lidar com essa lista de suspeitos, tem pressa de perfilar cada um e todos ficam superficiais, sem conteúdo. Aí, nessa urgência, estrelas charmosas não têm como mostrar muita coisa além de seu charme.

Há espaço apenas para o próprio Branagh, que constrói em detalhes minuciosos a personalidade irritante do detetive belga Hercule Poirot, herói de boa parte dos romances da escritora, e Johnny Depp, asqueroso no papel de Edward Ratchett, falsificador de obras de arte que é a vítima do assassinato.

Poirot, que tomou o trem de última hora, tenta descobrir quem deu inúmeras facadas em Ratchett e passa a interrogar os passageiros. Os intérpretes são de gerações diversas, incluindo Judi Dench, Michelle Pfeiffer, Willem Dafoe, Penélope Cruz e Daisy Ridley (a Rey da última trilogia "Star Wars").

A produção repete assim o mesmo recurso do fime de 1974, que tinha Lauren Bacall, Ingrid Bergman, Sean Connery, Jacqueline Bisset e Albert Finney, este numa versão bem mais sisuda de Poirot do que a de Branagh.

Assassinato no Expresso Oriente
Agatha Christie
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Quem viu o filme antigo ou leu o livro já sabe como a trama vai terminar. E o trecho final ficará muito enfadonho para essa parte da plateia.

Assim como os interrogatórios de Poirot, suas considerações que expõem o caminho até a solução do mistério são rasas, numa narrativa apressada que pode até deixar algum espectador sem entender direito os eventos que precederam a viagem.

"Assassinato no Expresso do Oriente" renderia mais como minissérie, com tempo suficiente para envolver o público. Espremido, é apenas um quebra-cabeças mediano em embalagem de luxo.

Assista ao trailer do filme 'Assassinato no Expresso do Oriente'

Assista ao trailer do filme 'Assassinato no Expresso do Oriente'


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