Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Correto, filme sobre artista Maria Martins não seduz nem arrebata

Divulgação
ORG XMIT: 224401_1.tif Automobilismo - Fórmula 1 - Grande Prêmio do Brasil, 2002: ao lado da linha de chegada em Interlagos, em São Paulo (SP), Pelé não percebe a passagem da Ferrari de Michael Schumacher e não lhe dá a bandeirada de vitória. Brazilian soccer star Pele waves the checkered flag at the end of the Brazilian Grand Prix in Sao Paulo, Brazil on Sunday March 31, 2002. Germany's Michael Schumacher of Ferrari won the race.(AP Photo/Dario Lopez-Mills)
A artista brasileira Maria Martins, tema de documentário

MARIA - NÃO ESQUEÇA QUE VENHO DOS TRÓPICOS (regular)
DIREÇÃO Francisco C. Martins
PRODUÇÃO Brasil, 2017, 12 anos
Veja salas e horários de exibição

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Maria Martins gostava de se dizer o "meio-dia pleno na noite tropical". Outros, talvez inebriados por esse calor, enxergam "devoração mútua", uma "sexualidade invasiva, que mordia pedaços das pessoas", entre outras vontades tórridas, em suas esculturas.

Ela seria, com o perdão do clichê, uma força da natureza. O documentário sobre sua vida e obra, no entanto, não passa de uma faísca um tanto pálida diante da artista e da mulher que tenta dissecar.

"Maria - Não Esqueça que Venho dos Trópicos", de Francisco Martins, é eficaz ao repassar sua existência cindida entre o jet-set bem comportado das rodas diplomáticas e as paixões à flor da pele que atravessam sua obra, mas não seduz nem arrebata.

Personagem riquíssima, Maria Martins, que morreu aos 78, em 1973, foi casada com o embaixador brasileiro em Washington na década de 1940, mas manteve um ateliê –e um caso extraconjugal com Marcel Duchamp– em Nova York na mesma época.

Sua obra, em nada menos extravagante que sua biografia, despontou no seio das vanguardas estéticas que migraram para Manhattan na ressaca da Segunda Guerra.

E críticos ouvidos pela primeira vez num necessário filme sobre a artista contextualizam sua relevância para além das irresistíveis anedotas –ela foi modelo da obra mais enigmática de seu amante famoso, "Étant Donnés", em que uma mulher nua de pernas abertas é vista pelo buraco da fechadura.

Enquanto o carregado cenário da obra de Duchamp reveste de erotismo mórbido a visão do corpo da artista, num jogo ambíguo entre dor e prazer, a direção do filme poderia seguir o caminho contrário, evitando excessos e malabarismos em trechos que transparecem afetação.

Sequências em preto e branco, entrevistas conduzidas pela atriz Malu Mader, um tanto fora de contexto ali, e leituras dramáticas dos escritos de Martins se esforçam para dar um verniz cult ao que poderia parecer só um especial de TV sobre a artista.

O tom protocolar das raras imagens de arquivo de Martins em vida também dificulta o trabalho de levar à tela a força de um dos nomes mais relevantes das artes visuais do século passado. Mas menos, nesse caso, poderia ter sido mais, como suas figuras animalescas, puras garras em riste, já mostravam lá atrás.

Assista ao trailer de 'Maria - Não Esqueça que Venho dos Trópicos'

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