Folha de S. Paulo


Lenora de Barros aposta na cerâmica em nova exposição no Anexo Millan

"Não é minha praia." Era assim que a artista plástica Lenora de Barros, 64, falava sobre sua recusa em utilizar cerâmica em suas obras. Segundo conta, ela tinha uma mistura de fascinação e receio de não saber usar o material.

Foi durante uma temporada em Nova York, no último ano, enquanto trabalhava no estúdio Sculpture, no distrito do Queens, que a artista resolveu dar uma chance para a tão temida cerâmica.

No processo de aprendizagem do material, Lenora usou como referência "Medo da Forma", um de seus poemas visuais, feito em 1972, e a figura da mão virou base do novo trabalho.

O resultado pode ser visto no Anexo Millan, na exposição "Pisa na Paúra", a partir desta quarta (22). As obras, que ganharam o nome "Máscaras de Mão", formam uma espécie de luva, como uma forma de proteção, de defesa.

Lenora discorre na exposição sobre medo e violência. A referência linguística, marca de seus trabalhos, também percorre as as obras.

Ao entrar na galeria, localizada no bairro paulistano da Vila Madalena, o visitante encontra as paredes tomadas por intervenções da artista.

Olhando de perto, percebe-se que a obra que ocupa as duas principais paredes da galeria conta com inúmeras repetições do título da exposição escritas por seu próprio punho. "Me apaixonei pela caligrafia", conta Lenora.

Além das intervenções, a ala inicial da mostra terá parte do chão coberto por letras de cerâmica -produzidas por Lenora e por jovens do Instituto Acaia- que formam a palavra "paúra".

O intuito é que as pessoas façam, literalmente, o que o título da mostra diz. Ou seja, os visitantes são convidados a pisar na paúra.

ALVOS

A artista também apresenta na mostra a videoinstalação "Alvos", filmada em uma escola de tiros em São Paulo.

"É um ambiente muito esquisito", relembra Lenora, que ficou interessada pelas imagens de modelos utilizados para o treinamento de tiro, que contam com a região da boca como alvo.

Assim, com a imagem na cabeça, ela criou uma obra que faz uma referência à violência por meio da própria linguagem. "Por essa situação quase babélica em que vivemos e ninguém se entende."

A escolha do nome da exposição também faz uma provocação a esse problema. Em vez de usar uma palavra mais conhecida, como "medo", ela optou por "paúra". A artista explica que considera o termo mais forte e que carrega "uma questão do pavor".

PISA NA PAÚRA
QUANDO abre nesta quarta (22); de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb. das 11h às 18h; até 20/12
ONDE Anexo Millan, r. Fradique Coutinho 1.360; tel. (11) 3031-6007
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre


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