Folha de S. Paulo


Nicole Kidman é matriarca punk no filme 'How to Talk to Girls at Parties'

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Nicole Kidman em cena de 'How to Talk to Girls at Parties
Nicole Kidman em cena de 'How to Talk to Girls at Parties'

"As festas aqui em Cannes são uma merda", queixou-se o diretor e ator americano John Cameron Mitchell, 54, sentado no terraço de um hotel cinco estrelas durante o festival que leva o nome da cidade francesa, em maio.

Na noite anterior, Arnold Schwarzenegger o havia agarrado para tirar uma selfie. "Ele viu meu paletó vermelho, belíssimo, e me puxou com tudo. Depois, me empurrou de novo. Nem sabia quem eu era", afirma ele à Folha.

De festa Mitchell entende. Ele conta que já ferveu em inferninhos nova-iorquinos, "realmente punks", com nomes do cinema underground como John Waters, "sempre no balcão das bebidas". Muitos de seus longas têm a noite como o cenário principal.

É também o caso de "How to Talk to Girls at Parties" ("como conversar com garotas em festas"), seu filme mais recente. Exibido no Festival de Cannes, ele desembarca em São Paulo em sessão grátis, nesta quarta-feira (22), na programação do Mix Brasil.

O longa, adaptado a partir de conto homônimo de Neil Gaiman, se passa em 1977, nos subúrbios de Londres. O ano é emblemático: enquanto a rainha Elizabeth comemora o jubileu de seu reinado, os olhos (e ouvidos) dos jovens ingleses estão voltados ao punk rock, que tomou o país de assalto com o som de Sex Pistols e The Clash.

É nesse universo que orbita Enn (Alex Sharp), um jovem punk que acidentalmente descobre uma seita de alienígenas canibais. Uma dessas aliens, e por quem ele logo se apaixona, é Zan (Elle Fannings). Juntos, eles desbravam a cena roqueira da época, que tem em Queen Boadicea (Nicole Kidman) uma mentora e figura matriarcal.

"Eu amo o punk rock", afirma Mitchell. "Mas só fui valorizá-lo quando saí do armário e descobri que ser gay e ser punk tinham tudo a ver: são atos políticos, sobre ser livre e desafiar as normas."

O punk não é estranho a ele, que viveu a adolescência na Inglaterra no mesmo período em que o gênero florescia.

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Cena de 'How to Talk to Girls at Parties
Cena de 'How to Talk to Girls at Parties'

Mais tarde, o mesmo universo, em sua faceta mais glam, estaria presente em "Hedwig" (2001), estreia de Mitchell na direção, e que o traz também à frente das câmeras, como protagonista, vivendo uma cantora transgênero da Alemanha Oriental.

O filme, que virou sucesso independente, pôs na mesa do diretor projetos mais polpudos, como "Memórias de uma Gueixa", que ele diz ter recusado para tocar filmes com "independência criativa".

Em 2006 veio "Shortbus", longa com nudez explícita que aborda a sexualidade abalada do nova-iorquino após o trauma do 11 de Setembro.

Depois de 2008, os projetos para longas minguaram. "Com a crise econômica, produtoras faliram e outras ficaram com medo de arriscar em obras mais ousadas", afirma.

Com "How to Talk to Girls at Parties", ele espera um retorno à direção. E às festas.

Mitchell gosta de conversar com garotas em festas? "Amo. Na última conheci a princesa Charlotte, de Mônaco, e falamos sobre Freud. Ela é uma mulher inteligentísisma."

HOW TO TALK TO GIRLS AT PARTIES
DIREÇÃO John Cameron Mitchell
ELENCO Nicole Kidman, Elle Fanning e Alex Sharp
PRODUÇÃO EUA/Reino Unido, classificação indicativa não informada
MIX BRASIL qua. (22), às 15h, no CineSesc, grátis; retirar ingresso uma hora antes do início da sessão


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