Folha de S. Paulo


Laerte e Angeli reúnem artistas de HQ e escritores na nova revista 'Baiacu'

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Personagens da HQ 'O Convidado', um dos trabalhos do autor brasiliense Gabriel Góes incluídos na 'Baiacu'
Personagens da HQ 'O Convidado', trabalho do autor brasiliense Gabriel Góes incluído na 'Baiacu'

Uma revistona em quadrinhos. Um livrão. A reunião de linguagens gráficas de 20 autores diferentes. A alternância de estilos e propostas pelas 300 páginas causa uma constante estranheza. O nome também é estranho: "Baiacu".

No meio de tudo, Laerte e Angeli, dois nomes bem conhecidos, que podem ser considerados criadores, curadores e avalistas desse recorte vanguardista da HQ atual.

"A ideia veio de um desejo meu de fazer uma publicação com o Angeli. Voltar a fazer alguma coisa, um fanzine", conta Laerte. "Ele sempre teve esse talento de recrutar pessoas novas. A gente queria trabalhar com um certo conforto, porque não temos mais 20, 30 anos. Queríamos poltronas", diz, rindo. A dupla publica na Folha.

"Baiacu" é o primeiro resultado impresso de um projeto que cresceu a partir de uma residência artística abrigada na Casa do Sol, um sítio em Campinas onde viveu a escritora Hilda Hilst (1930-2004).

No mês de julho, o projeto foi ampliado com uma série de aulas, workshops, debates e uma ocupação visual no Sesc Ipiranga, em São Paulo.

Neste sábado (18), às 19h, no mesmo local, será o lançamento da "Baiacu" pela Editora Todavia. Rafael Coutinho, coordenador do projeto, conduz uma atividade de desenho ao vivo no sábado e no domingo (19), das 15h às 18h.

Os artistas na residência foram os brasileiros Fabio Zimbres, Gabriel Góes, Guazzelli, Juliana Russo, Laura Lannes, Mariana Parazio, Pedro Franz e Rafael Sica, ao lado de Power Paola (Colômbia) e Ilan Manouach (Grécia).

Na "Baiacu" impressa, várias colaborações de escritores, poetas e artistas gráficos: André Sant'Anna, Anna Claudia Magalhães, Bruna Beber, Daniel Galera, Diego Gerlach, Mateus Acioli, Paula Puiupo e Zed Nesti, autor da capa.

TERROR E POLÍTICA

Laerte diz que a capa, um homem de terno com ataduras envolvendo a cabeça, como uma múmia, "é incrível e muito eloquente desse tempo nosso, porque remete a cuidados médicos, uma pessoa em um hospital, coberta de bandagens, ao mesmo tempo em que remete a filme de terror, mas o terno lembra a burocracia, a política."

Zed Nesti faz trabalhos com Angeli e Laerte desde 1994. A imagem é uma pintura a óleo, "Homem com a Cabeça Enfaixada", de 2012. Faz parte de uma série na qual o autor resgatou algo que fazia na infância para sublimar os medos: desenhar monstros.

"Quando me pediram para usá-la na capa, fiquei superfeliz. Conseguiram fazer algo inovador em meio à tanta produção. As histórias são incríveis, com uma diversidade de estilos gigantesca", diz Zed.

Ainda sem ter visto a revista impressa, Fabio Zimbres está ansioso para ver como seus desenhos foram aproveitados. "O que deixei pra eles poderia ser usado livremente, espalhado pela revista. A residência convidava à dispersão, e resolvi deixar essa dispersão expressa nesses trabalhos. Não uma história única, mas pedaços de coisas."

"A 'Baiacu' foi um daqueles trabalhos que de tão bom parecia mentira. Antes de partir para a residência me senti criança as vésperas da ida para aquele sonhado acampamento", afirma Juliana Russo.

"Foram 15 dias que passamos na casa da Hilda. A gente desenhava o tempo todo, só parava pra comer. Foi muito bom acompanhar os processos de cada um", conta ela.

"Quando cheguei lá, pouco sabia sobre o que ia produzir, mas aos poucos o meu projeto foi clareando. Falei um pouco sobre o entorno do sítio. Um trabalho documental, mas usei a sequência de vários desenhos para construir narrativas. Ficou linda a edição."

NOVOS VOLUMES

Um segundo número da "Baiacu", já previsto, não tem data ainda. Laerte quer um repeteco da residência artística. "Estamos considerando a possibilidade de lançar alguns números mais ágeis."

Entre os trabalhos da dupla de criadores da "Baiacu", dois consagrados foram, nos anos 1980, as revistas "Chiclete com Banana" e "Piratas do Tietê". Um humor de escracho, mais acessível do que as experimentações da "Baiacu".

"Tanto eu quanto o Angeli estamos, enquanto pessoas, diferentes. Nosso olhar é outro. A gente não deixou de trabalhar no registro de humor. O que eu acho que nem eu nem o Angeli somos é cômicos", afirma Laerte.

"Ao chamar outros artistas, jovens, a gente abriu a porta para estabelecer um outro olhar. A gente não queria refazer 'Chiclete com Banana', porque os tempos são outros."

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LANÇAMENTO DA "BAIACU"
QUANDO sábado (18), às 19h
ONDE Sesc Ipiranga, r. Bom Pastor, 822, tel. (11) 3340-2000
EDITORA Todavia
QUANTO R$ 84,90 (o exemplar)


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