Folha de S. Paulo


Designer Stefan Sagmeister vem ao Brasil lançar filme sobre a felicidade

Um dos mais importantes designers da atualidade, o austríaco Stefan Sagmeister falará para um auditório de 3.000 pessoas em São Paulo no dia 2 de dezembro. Ele é o principal convidado do Pixel Show, maior evento anual sobre criatividade da América Latina.

Sagmeister vive em Nova York, onde já criou para Rolling Stones, Talking Heads, Lou Reed, Jay Z e museu Guggenheim. Exposições sobre seu trabalho foram montadas em Tóquio, Seul, Paris, Zurique, Viena, Praga e Berlim. Vencedor de um Grammy, recebeu em 2013 a medalha da Associação de Designers Gráficos Americana (Aiga) pelo conjunto da obra e a contribuição com o design.

No evento, será exibido pela primeira vez no Brasil seu documentário autobiográfico "The Happy Film", que estreou no Tribeca Film Festival, em 2016, que foi elogiado pela exuberância gráfica.

O filme levou sete anos para ser concluído e mostra a pesquisa do designer por felicidade por meio de meditação, terapia e drogas.

Pela terceira vez, Stefan está no fim de um período sabático. A cada sete anos, ele se afasta do estúdio para experimentar sem compromisso profissional. Desta vez, seu foco é a beleza. Ele divide com a Folha algumas descobertas.

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Folha - Como você avalia o design atual e futuro?

Stefan Sagmeister - Nesse momento, mais de 50% da população mundial vive em cidades. Tudo o que há em torno dessas pessoas foi projetado: lentes de contato, roupas, cadeiras, casas, ruas, parques, cidades. Esses ambientes têm o mesmo papel para um morador da cidade quanto a natureza para um indígena. Bem ou mal projetados, eles farão diferença. Eu acho que a beleza voltará a desempenhar um papel importante nisso.

A beleza é um tema escorregadio. Como você está desenvolvendo sua pesquisa e definindo o que é ou não é bonito?

A beleza é uma combinação de forma, cor, composição, material e estrutura, para agradar sentidos estéticos. Existem certas composições e cores que são vistas como mais bonitas que outras. A maioria das profissões centradas no design, seja arquitetura, produto ou digital, não leva a beleza muito a sério. Elas a percebem como algo supérfluo e concentram-se na função. Eu acredito que buscar unicamente a funcionalidade conduz a um trabalho que não funciona.

Você tem apontado o manifesto contra a ornamentação, feito pelo arquiteto Adolf Loos em 1908, como um dos crimes do modernismo contra a beleza no design. Quanto ela depende ou não de ornamentos?

Adolf Loos teve um ponto muito válido durante seu tempo. Passaram-se cem anos e a situação mudou significativamente. As coisas mais feias não são feias porque alguém queria que fossem, elas são feias porque alguém não se importava. A questão da beleza não está na simplicidade ou na complexidade, mas no cuidado e no descuido.

Alguém pode criar beleza? Você tem algum método?

É difícil chegar ao belo. Muitas pessoas podem criar algo funcional. Tornar isso também bonito, de uma forma que não apenas mimetize coisas do passado, exige habilidades e talentos reais.

Como você está organizando este ano sabático, e quais as diferenças com os anteriores?

Tenho tirado um ano a cada sete anos, mas muitas outras divisões são possíveis: uma hora por dia, ou um dia por semana. O impulso para o primeiro sabático teve muitos pais, entre eles [o artista gráfico americano] Ed Fella.

Em visita ao estúdio, ele mostrou experiências fantásticas feitas com uma caneta esferográfica de quatro cores e chamou zombeteiramente de arte de saída. Senti pena que ele tivesse feito isso só aos 60 anos; teria tido um impacto maior se tivesse intercalado essas experiências.

Nosso tempo aqui é finito e devemos usá-lo da melhor forma que pudermos. Fiz o primeiro ano sabático quando tinha 38 anos, o segundo com 46, o terceiro com 54. Tentei planejá-los de forma diferente, para que não fossem apenas repetições. No primeiro, fiquei em Nova York, no segundo, na Indonésia, e, no terceiro, na Cidade do México, em Tóquio e nos Alpes austríacos.

Ferran Adrià, considerado o melhor cozinheiro do mundo, fechava seu restaurante por seis meses todo ano, mantendo uma equipe focada em experimentar.

Reprodução
Capa de 'Bridges to Babylon' (1997), dos Rolling Stones, criada pelo designer austríaco
Capa de 'Bridges to Babylon' (1997), dos Rolling Stones, criada pelo designer gráfico austríaco

Seu estúdio fez campanha contra o governo Trump. Como você vê a relação entre design e política?

Achamos que ele é realmente terrível para o país e o mundo e sentimos que um grupo muito jovem de eleitores não está realmente interessado nisso. Nós achamos que podemos contribuir para torná-los mais comprometidos e tentamos.

Pelo menos, quatro jovens brasileiros fizeram parte da sua equipe nos últimos anos. É uma coincidência?

Nos últimos anos, uma série de países latino-americanos tem se entusiasmado com o design, a arquitetura e o cinema. Nós seríamos bobos se não aproveitássemos.

Qual foi o aprendizado mais importante em "Happy Film"? Pretende fazer outros filmes?

Sobre a meditação, houve momentos em que pensei: "Por que todos não fazem isso". Em outros, senti que era difícil e chato. No geral, melhorou minha vida um pouco, mas não de forma a alterá-la. Entrevistamos quase uma centena de pessoas em Bali. Todas diziam que a meditação as fazia mais felizes, mas poucas pareceram verdadeiras.

As drogas funcionaram para mim —até demais—, e eu tomaria [o antidepressivo] Lexapro de novo, em dose menor. Não o recomendo porque, quando falei sobre isso, ouvi todos os resultados possíveis.

E não, não faria outro filme. É caro, demorado e difícil de distribuir e ter grande público.

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Andreas Solaro/AFP
O designer gráfico austríaco Stefan Sagmeister, que vem ao Brasil para palestra
O designer gráfico austríaco Stefan Sagmeister, que vem ao Brasil para palestra

RAIO-X STEFAN SAGMEISTER

Nascimento
6.ago.62, em Bregenz (Áustria)

Formação
Graduação na Universidade de Artes Aplicadas de Viena e pós-graduação no Pratt Institute de Nova York

Mais trabalhos
- "Aiga Detroit": pôster em que escreve cortando a pele
- "Things I've Learned in My Life so Far": aforismos em filmes e instalações
- "Set the Twilight Reeling": pôster e arte para Lou Reed

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PIXEL SHOW
QUANDO sáb. (2) e dom. (3); palestra de Stefan Sagmeister no sáb. (2), às 16h50; exibição do documentário "The Happy Film" no sáb. (2), às 14h
ONDE Pro Magno (r. Samaritá, 230, tel. 11 3926-0174)
QUANTO R$ 256,00 (valor permite ver todas as palestras); R$ 199 (para assinantes da revista "Zupi"); exibição do filme no sáb. (2) é gratuita
PROGRAMAÇÃO pixelshow.com.br


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