Folha de S. Paulo


Há 50 anos, John Lennon estampava 1ª capa da 'Rolling Stone'; relembre

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Capas Rolling Stone com Miley Cyrus, Kurt Cobain e John Lennon e Yoko: revista será colocada à venda
Capas da "Rolling Stone" com John Lennon e Yoko, Kurt Cobain e Miley Cyrus (esq. p/ dir.)

Quando a primeira edição da Rolling Stone chegou às bancas, em 9 de novembro de 1967, com uma foto de John Lennon na capa, ninguém imaginava que ela ainda estaria por aí com toda a força, cinco décadas depois.

"A Rolling Stone conseguiu sua audiência instantaneamente", lembra Michael Lydon, um dos fundadores da publicação. "Imediatamente nós estávamos recebendo chamadas. Eric Clapton ligou, a Warner Brothers ligou de Los Angeles."

Aquela primeira edição trazia críticas de álbuns de Jimi Hendrix e Eric Clapton, fotos e matérias sobre os problemas com drogas do Grateful Dead.

Lydon diz que a revista capturava o espírito da época e que conquistou rapidamente leitores, com uma combinação única de cobertura musical e jornalismo político.

"Era o tempo da expansão da mente", diz Lydon. "Não era coisa de nicho. A música era o núcleo, era aquilo que unia a todos."

Hoje em dia, muitos jornalistas aspirantes nos EUA tem sonhos de fazer parte da redação da Rolling Stone, mas quando Lydon entrou no projeto, ela estava ainda nascendo.

Depois de terminar o estudo universitário na década de 60, o empregador de Lydon, a Newsweek, o enviou a Londres, onde entrevistou John Lennon e Paul McCartney sobre o sucesso do álbum dos Beatles Rubber Soul, de 1965.

Mas o verdadeiro catalisador veio durante uma visita ao Monterey Pop Festival em 1967, onde assistiu gente como Jimi Hendrix, The Who e Janis Joplin. Foi lá que conheceu Jann Wenner, atual editor da Rolling Stone, que já projetava uma revista voltada para a nova geração de jovens hippies, que estavam frustrados com o que as bancas de jornais tinham a oferecer na época.

Poucas semanas depois, em um café em São Francisco, Wenner pediu a Lydon que fosse seu primeiro editor-chefe.

"Eu estava procurando algo assim", diz Lydon. "Assim como hoje, quando jovens de mentalidade semelhante se formam na faculdade e dizem 'ei, vamos começar um site'. Era muito parecido com isso. Éramos um grupo de jovens de 20 anos que queria fazer algo... todos queríamos ser o quinto Beatle."

VERÃO DO AMOR

Lydon brinca com a forma como Wenner Wily se aproveitou dos Rolling Stones, ao se apropriar do nome de uma das maiores bandas do mundo. Mick Jagger e Keith Richards pegaram o nome da música Rolling Stone, de Muddy Waters, enquanto Bob Dylan aprimorou ainda mais, lançando Like a Rollin' Stone em 1965. É justo dizer que Wenner sabia o que estava fazendo.

"Aquele verão era o 'verão do amor'", afirma Lydon. "Estávamos muito inspirados pela música que surgia —Bob Dylan, os Rolling Stones, os Beatles. Tudo era muito bom, muito excitante, estava em sintonia com o que milhões de jovens americanos e de todo o mundo estavam pensando e esperando criar para suas vidas".

Ao perceber que a Rolling Stone começava a atrair cada vez mais leitores, a Esquire, publicação líder no setor na época, começou a ficar incomodada. Lydon e Wenner começaram a sentir cheiro de sangue.

"Wenner percebeu que havia aquela nova geração de hippies e LSD, de calças boca de sino e tal. Esse era um novo público leitor", ressalta Lydon. "As revistas que os universitários liam, como a Esquire, davam mais importância a marcas refinadas de uísque, casacos de tweed, calças cáqui e camisas sociais.

Mas, de repente, o visual hippie dos cabelos compridos era o visual do momento. E a Esquire estava desatualizada."

O LANÇAMENTO

Trabalhando de um sótão em um prédio de escritórios de São Francisco, a pequena equipe, incluindo o crítico de música Ralph J. Gleason, produziu a primeira edição da Rolling Stone. Seu lançamento, em 9 de novembro de 1967, foi seguido de lágrimas de alegria e champanhe, lembra Lydon.

"Todos nós fomos para casa cansados mas felizes. E, na noite seguinte, voltamos para escrever o segundo número", diz.

Desde o seu lançamento, a Rolling Stone tematizou e investigou alguns dos temas mais controversos da história humana recente, como o HIV e a Guerra do Vietnã.

Lydon deixou a revista algumas edições mais tarde para prosseguir sendo autônomo. Ele atribui a sobrevivência da Rolling Stone à visão de Wenner.

"Nós éramos apenas um pequeno jornal tabloide, mas tínhamos uma ideia, de alguma forma, sobre aonde queríamos chegar", afirma. "A Rolling Stone fez sucesso imediatamente e logo as pessoas queriam ser entrevistadas e ter suas histórias na publicação ".

Nos últimos anos, a revista sofreu com publicidade negativa após um caso de difamação (ligado a uma matéria sobre um estupro coletivo que não ocorreu) e problemas financeiros. Jann Wenner e seu filho, Gus, têm tentado vender sua metade de participação na empresa.

Lydon, agora com 75 anos, é cantor e compositor e também autor de diversos livros. Cinquenta anos depois, ele ainda está feliz em ser lembrado por sua participação no nascimento da Rolling Stone.


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