Folha de S. Paulo


De psicopatas a parricidas, séries resgatam assassinos reais

Divulgação
O ator Cameron Britton interpreta o psicopata Ed Kemper em cena de
O ator Cameron Britton interpreta o psicopata Ed Kemper em cena de "Mindhunter", da Netflix

Está aberta a temporada de caça a quem, a valer, sempre esteve com a faca na mão. Os estúdios norte-americanos identificaram que o telespectador estava com saudade do selo "baseado em fatos reais" decalcado em assassinos.

Pobre Hannibal, sua última performance não foi tão boa. O personagem criado pelo escritor Thomas Harris retornou em série homônima da NBC. Sofreu com a audiência e durou de 2013 a 2015.

A safra dos psicopatas que de fato habitaram os jornais foi ganhando volume; "Mindhunter", por fim, acertou no alvo. A série apresenta, na Netflix, desde o mês passado, não um, mas uma galeria de criminosos conhecidos.

Mindhunter - O Primeiro Caçador de Serial Killers Americano
John Douglas, Mark Olshaker
l
Comprar

Ela é baseada no livro "Mindhunter: o Primeiro Caçador de Serial Killers Americano", de Mark Olshaker e John Douglas, publicado nos EUA em 1995 e que ganhou recentemente edição no Brasil pela Intrínseca (384 págs., 39,90). Retrata o berço de um departamento do FBI que estuda a mente de criminosos.

Ed Kemper, Charles Manson, Dennis Rader passeiam pela série de dez capítulos. Mas, fora dela, há ainda muitas outras mentes criminosas.

Charles Manson, que liderou um grupo em matanças nos anos 1960, também foi relembrado por "Aquarius", em 2015 e 2016. E "Law & Order" filmou neste ano o parricídio cometido pelos irmãos Menendez em Beverly Hills.

"Alias Grace", que a Netflix lançou nesta sexta (3), toma distância do bando, em especial pelo foco numa mulher. Em meados do século 19, Grace Marks foi acusada de matar seu patrão, um fazendeiro, e a governanta da casa onde trabalhava, em conluio com James McDermott.

A série é baseada em romance (que por sua vez bebe de fontes históricas) de Margaret Atwood, autora levada às telas neste ano em outra adaptação de sucesso, "Handmaid's Tale", da Hulu, premiada em cinco das categorias mais importantes do Emmy.

EM SÉRIE

Douglas trabalhou como agente do FBI. O coautor do livro em que "Mindhunter" se baseia conta à Folha que a adaptação demorou anos para se realizar após ser proposta por Charlize Theron (que a produz, com David Fincher).

"Hoje os crimes se tornaram um fenômeno cultural, mas o seriado se passa em um momento que a expressão 'assassino em série' nem mesmo existia. Nós mostramos o começo de tudo", conta Jonathan Groff, que interpreta a versão fictícia de Douglas.

Para ele, essas séries permitem que a sociedade explore sentimentos desconhecidos. "Ainda somos extremamente reprimidos. Desta forma, as pessoas podem falar sobre violência e sexualidade sem se prenderem a isso."

A série dispensa as clássicas cenas de perseguição e violência, apresentando a rotina de assassinos e detetives.

"As cenas de diálogos correspondem às cenas de ação", diz o ator, referindo-se às descritivas conversas nas quais assassinos detalham como cometeram os crimes. "Não são vilões de histórias em quadrinhos, mas seres humanos", explica.

"Mindhunter" já teve sua segunda temporada confirmada, e Douglas garante que a maior parte dos crimes narrados no livro será retratada. "Os roteiristas terão muitos casos terríveis para escolher."

FASCINAÇÃO

Os retratos em questão não deixam o horror tomar o primeiro plano. Disparam sentimentos mistos entre os personagens, quiçá até simpatia, como no caso de Ed Kemper, o primeiro psicopata de uma série que o protagonista de "Mindhunter" entrevista.

"O YouTube oferece registros de conversas com ele [Kemper], todas elas fascinantes e horríveis", publicou em rede social Cameron Britton, intérprete do sujeito que matou sua mãe, seus avós e pelo menos seis garotas.

A franja penteada com esmero -do lado esquerdo para o direito- cria a identidade da figura metódica e asseada, que ficou conhecida por sua educação e eloquência.

Esse perfil pode ser conferido nas entrevistas que Kemper concedeu e que deram base ao personagem. Elas estão no YouTube e dão voz a um homem que também é capaz de falar sobre suas amizades pelos amigos carcereiros.

As declarações deram base a um trecho da série em que o personagem declara: "Eles gostam de mim pois podem conversar comigo coisas que não falam para suas mulheres".


Endereço da página:

Links no texto: