Folha de S. Paulo


CRÍTICA

'Depois Daquela Montanha' tem roteiro chato e pouco plausível

Divulgação
Kate Winslet e Idris Elba em cena do filme 'Depois Daquela Montanha
Kate Winslet e Idris Elba em cena do filme 'Depois Daquela Montanha'

DEPOIS DAQUELA MONTANHA (ruim)
(THE MOUNTAIN BETWEEN US)
DIREÇÃO Hany Abu-assad
ELENCO Kate Winslet, Idris Elba, Beau Bridges
PRODUÇÃO EUA, 2017, 14 anos
Veja salas e horários de exibição

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Com poucos minutos, "Depois Daquela Montanha" diz a que veio: à chatice. Hany Abu-Assad dirige com mão pesada e estraga as eventuais surpresas do roteiro sem sal. O que resta é ver Kate Winslet digladiando-se com os parcos recursos que tem à disposição —muito menores do que os citados por Carlos Drummond de Andrade em "O Elefante".

"Fabrico um elefante/de meus poucos recursos". Perdido, no meio das ruas. Drummond falava sobre a arte e usou a imagem do elefante para metáfora. Porém, como a vida é dura, ao invés da metafísica de "O Elefante", é preciso encarar "Depois Daquela Montanha" e a sua falsa história de superação.

Alex (Kate Winstlet) e Ben (Idris Elba) não se conhecem. Uma tempestade de neve se aproxima, os dois estão no aeroporto. A companhia aérea cancela os vôos, mas Alex vai casar com Mark (Dermot Mulroney) e Ben vai operar um paciente. Fotógrafa e cirurgião. Mulher e homem. Calor e frio. Emoção e razão. Estão aí as chaves do filme.

A moça tem a ideia de fretar um vôo em um teco-teco, convida Ben, que aceita e o avião cai. Começa a tal "superação" diante do frio, nas inóspitas montanhas. Só não espere a tragédia do time de rúgbi nos Andes. Ou mesmo o "127 Horas", com James Franco. O objetivo é chancelar facilidades.

"Depois Daquela Montanha" não se dispõe a ser surrealista, não faz exercícios de abstração à moda de John Waters, e ainda assim constrói uma história pouco plausível. Ben e Alex não definham, o cirurgião vence adversidades como se rolasse um palito nos dentes, à espera da capa de super homem. Um simpático cachorro trota pela vastidão branca, abduzido da "História de Elza".

Quando um "cougar" ameaça Alex, mentes imaginativas torcem pela chegada de uma mulher de óculos escuros e postura agressiva, já que a expressão "cougar" é hoje utilizada com esse sentido. Mas não. É apenas um animal. Mesmo porque o filme não parece do século XXI, um tempo em que as mulheres são mais do que meras coquetes. A doce Alex fica sempre à procura de emoções no frio Ben.

Talvez a comédia fosse o caminho. Durante certos deslizes, vem a lembrança de "Apertem os Cintos, o Piloto sumiu". Nele a baderna com os filmes no estilo "Aeroporto" era explícita. Havia sinceridade no deboche. "Depois Daquela Montanha" não abraça a causa. Terrível drama, a seriedade dilui-se nos erros.

Assista ao trailer de 'Depois Daquela Montanha'

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