Folha de S. Paulo


Desfiles 'off-SPFW', Casa de Criadores e Brasil Eco Fashion dão fôlego à moda

O que é realmente novo na moda é uma pergunta que ronda os principais eventos do gênero. Saturadas de grifes que repetem fórmulas de produção em série e dividem as mesmas diretrizes de tendências, as semanas de moda tentam lançar "novidades", mas nos últimos anos parecem girar em torno do próprio eixo. Dois eventos em São Paulo, em novembro, querem quebrar essa constante.

Voltadas para marcas sem espaço no calendário do mercado, consagrado no Brasil por uma São Paulo Fashion Week hoje empenhada em repercutir desfiles medianos em vendas imediatas –por meio do modelo "veja agora, compre agora"–, a Casa de Criadores e a primeira edição do Brasil Eco Fashion querem virar plataformas para marcas de nicho com alto potencial mercadológico.

Após 20 anos dedicada ao experimentalismo sem compromisso com as vendas, a Casa, que ocorre entre 6 e 10 de novembro, na Praça das Artes, ganhou a curadoria da revista "Elle". O propósito da publicação será apontar nomes que conservem o viés criativo mas tenham sólidas estruturas fabris.

As etiquetas Another Place, Tom Martins e CZO, da multimarca paulistana Cartel 011, são as três primeiras marcas dessa colaboração. O objetivo é que, no próximo ano, outras grifes sejam indicadas e entrem para o line-up.

"Por maior que seja a crise econômica do país, temos percebido que pequenas marcas se saem bem nas vendas, o que só corrobora nossa tese de que o mercado é receptivo às grifes com novos princípios, conectados aos da juventude", afirma o diretor do evento, André Hidalgo.

Entre essas ideias está o viés sustentável, a moda "sem gênero", com forte apelo ao estilo urbano, e produção 100% nacional.

"Nenhuma das marcas tem pretensão de ser muito grande em vendas, mas todas querem viver de moda. Isso faz com que tenham postura mais atenta ao mercado do que em anos anteriores, quando tudo era muito conceitual", diz o empresário.

SUSTENTABILIDADE

Na esteira do consumo responsável e de recente leva de marcas dispostas a repensar a produção de moda, o Brasil Eco Fashion Week será o primeiro evento de desfiles e showroom dedicado exclusivamente à sustentabilidade.

O tripé ambiental, social e econômico guia a programação, que vai de 21 a 24 de novembro, na Unibes Cultural.

A curadoria de Fernanda Simon, coordenadora nacional da ONG Fashion Revolution Brasil, cujo mote é promover atividades relacionadas à sustentabilidade na moda em todo o mundo, priorizou etiquetas famosas pela criação.

Entre os destaques estão as estilistas Fernanda Yamamoto, Flavia Aranha, expoente do design sustentável nacional que participará da feira e de uma mesa redonda, e Francisca Vieira, dona da marca paraibana Natural Cotton Color e parceira de grifes internacionais cujas roupas utilizam fios de algodão orgânico colorido cultivado no país.

Revelação da moda masculina e reconhecida por desenvolver projetos sociais que convertem parte dos lucros em material escolar para comunidades carentes, a Oriba também estará na plataforma.

"A moda se tornou exclusivista e fechada em seu próprio círculo. Queremos mostrar para o público marcas preocupadas com questões éticas, ambientais e trabalhistas, e que valorizam seus processos produtivos, desde o investimento na agricultura familiar até o uso de ativos naturais", explica Simon.

Ela acrescenta: "O Brasil está atrasado em moda ética e ainda acredita que sustentabilidade significa algo rústica e artesanal. Queremos provar que não é bem assim".


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