Folha de S. Paulo


CRÍTICA

'The Square' cutuca o vespeiro da proximidade entre arte e embuste

Divulgação
Cena do filme sobre Pelé
Cena do filme 'The Square', vencedor da Palma de Ouro em Cannes

THE SQUARE (muito bom)
DIREÇÃO Ruben Östlund
ELENCO Claes Bang, Elisabeth Moss
PRODUÇÃO Suécia/Alemanha/França/Dinamarca, 2017; 14 anos
QUANDO 27/10, às 17h20 (Espaço Itaú Augusta); 29/10, às 21h15 (Cinearte 1); 30/10, às 19h20 (Espaço Itaú Frei Caneca); 1/11, às 19h10 (Cinesesc)
Veja salas e horários de exibição

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Não é preciso aderir à atual reação irracionalista para desconfiar de que muita coisa exibida sob a etiqueta arte contemporânea mal se distingue do embuste.

"The Square", vencedor da Palma de Ouro deste ano em Cannes, cutuca esse bicho peçonhento sem cair no equívoco de anular o potencial que os artistas exploram para provocar e pôr em dúvida nossas convicções, estéticas ou outras.

Em seu quinto longa, o sueco Ruben Östlund não simplifica nada, evitando a solução fácil de ridicularizar.

Não se encontra aqui, por exemplo, o pensamento único que oferece satisfação atirando contra o discurso artístico ou desnudando a superficialidade das elites culturais, inclusive por que o cinema e seu público fazem parte deles.

Christian, curador-chefe de um museu em Estocolmo, protagoniza a trama feita não só de um, mas de múltiplos fios. A apresentação de uma obra conceitual (o quadrado ao qual o título se refere) ocupa sua atenção. Além disso, sua função envolve dar entrevistas, entreter mecenas e se aproximar de jovens inovadores, que propõem adaptar seu discurso às novas mídias, com vídeos que viralizam nas redes sociais.

Mas um furto força o personagem para fora desse mundo protegido, aproxima-o de um quadro social que ele preferiria desconhecer.

As duas primeiras cenas definem a incongruência do aparato que abriga a arte numa bolha conceitual, enquanto passa ao lado de problemas reais, os mesmos que muitos criadores dizem denunciar nas obras.

Östlund, no entanto, não assume o papel de paladino. Como em "Força Maior" (2014), seu longa anterior, é da incoerência entre ideias e ações que ele obtém consistência.

Arte e margem, de fato, se encontram como símbolos da contradição mais ampla entre controle e descontrole. A ideia de perfeição do quadrado representa um santuário de preservação dos direitos. Já o imprevisível e o acidental invadem e desorganizam a ilusão de total controle.

Nesse sentido, a sequência crucial de "The Square" ocorre durante a performance simiesca de um artista diante de uma plateia vip. Ali, o retorno do selvagem e da improvisação devolvem o problema como bofetada: se a arte ainda se define como inquietação, ela seria possível no mundo do consumo satisfeito?

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Assista ao trailer de "The Square"

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