Folha de S. Paulo


Tom político e frases feitas marcam primeira noite de shows do U2 em SP

Foi uma noite para emocionar uma geração que ouviu os LPs e fitas cassete do U2 na pré-adolescência e estava beijando pela primeira vez ou perdendo a virgindade quando os primeiros CDs do Oasis chegaram às lojas.

Ex-integrante da banda britânica, Noel Gallagher fez a abertura para os irlandeses, que se dedicaram a uma sessão nostálgica pontuada por clichês, discursos humanitários e mensagens políticas.

Na música pop, a rentabilidade em torno da nostalgia parece ter se tornado tônica, tamanha a quantidade de shows para celebrar álbuns clássicos, caso desta turnê do U2, que comemora 30 anos do disco "The Joshua Tree".

Não é estranho então que o repertório de Noel seja em boa parte formado pelas canções do Oasis. Nas outras duas vezes em que veio ao país em carreira solo, o britânico também recorreu ao passado. Porém, num show mais curto, de 11 sons, a revisitação fica mais clara: cinco faixas são do grupo que formou com o irmão Liam Gallagher até 2009.

A escolha de hits como "Wonderwall", "Don't Look Back in Anger" e "Champagne Supernova" mirava a simpatia dos fãs dos irlandeses, mas foram executadas em marcha lenta, como se Noel e sua banda, os High Flying Birds, estivessem em jejum.

Ainda assim, esses sucessos radiofônicos, principalmente "Wonderwall", ganharam a plateia. Na execução do som, celulares ao alto, casais se beijando e mensagens de voz pelo WhatsApp.

BANDEIROSOS

A expectativa de que o U2 levantasse bandeiras antigas, ainda que no contexto de Trump, "brexit" e manifestações xenófobas nas ruas americanas, foi atendida antes de a banda entrar em cena.

O público ainda entrava no estádio enquanto textos de autores de veia política surgiam no telão. A americana de origem árabe Naomi Shihab Nye e o americano Langston Hughes estavam entre eles.

Curvo, o telão fazia parte de um projeto visual limpo, cruzando o fundo do estádio.

"Sunday Bloody Sunday" abriu o repertório e estava entre quatro canções que não pertencem a "The Joshua Tree". Ainda no início, houve homenagem a Cazuza, Renato Russo e David Bowie.

Ao fundo, imagens de estradas e montanhas acompanharam "I Still Haven't Found What I'm Looking For", que o vocalista Bono deixou para o público cantar quase até a metade. O lado A do álbum sempre foi mais pop, o que se refletiu em um início para cantar junto. Na sequência veio "With or Without You".

Os acordes etéreos foram ficando mais pesados, e as imagens acompanharam o ritmo, com menções a militarização e conflitos étnicos. Houve projeções de fotos do holandês Anton Corbijn, autor da capa de "The Joshua Tree".

Bono dedicou a penúltima canção, "Ultraviolet (Light My Way)", do disco "Achtung Baby" (1991), às mulheres. Com a canção, exibiu-se retratos de Frida Kahlo (1907-1954), Rosa Parks (1913-2005), Maria da Penha. À frente, o baterista Larry Mullen Jr. vestia camiseta escrito "censura nunca mais".

Em São Paulo, ainda há shows neste fim de semana e na quarta, dia 25.


Endereço da página:

Links no texto: