Folha de S. Paulo


Em 'Etiópia', jornalista da Folha relê memórias do pai no país africano

No princípio, há uma imagem: o imperador etíope Haile Selassie (1892-1975) tem um filhote de chacal no colo, e um raio de sol faz seu anel reluzir.

Antonio Angiolillo contava suas memórias por cenas como essa. Entre as lembranças de sua temporada no país africano, em 1967, restaram fotos. Em uma, em particular, ele aparece com um amigo. Os dois estão cercados por homens e mulheres negros.

A memória que se conta e a memória que se imagina foram o ponto de partida para Francesca Angiolillo, filha de Antonio e editora-adjunta de Cultura na Folha, escrever "Etiópia", seu livro de estreia.

"Eu achava superestranha a cena do imperador, porque, nos anos 1980, a Etiópia para mim era só a fome no noticiário. Pouco antes de morrer, ele fez questão de me contar muitas histórias, sabia que eu gostava de cuidar da memória da família", diz ela.

Em 2014, pouco após a morte do pai, ela encontrou em suas coisas um envelope verde com o nome do país. Lá estavam as imagens daqueles meses na Etiópia, que ele nunca havia mostrado à filha.

Ela, então, passou a escrever novos poemas a partir das lembranças -de Antonio e com ele.

Reprodução
Capa do livro
Capa do livro "Etiópia", de Francesca Angiolillo

"Eu me apossei dessa ideia de Etiópia como uma coisa fabulada, trabalhada por ele como narrativa, uma memória que ele reinventou."

Com uma bolsa de criação literária, a autora viajou, em 2016, para a nação africana.

O volume de poemas está dividido em duas partes. A primeira é cheia de versos com lembranças, cores, lugares, histórias de família.

A segunda é um poema longo, dividido em 17 seções. "Obrigado por Ter Vindo", compõe-se de duas vozes que se alternam: a do imperador, que profetiza o futuro da Etiópia, e a de um eu-lírico estrangeiro que visita o país.

"Não é o imperador histórico que fala, mas uma figura inventada. Imaginei-o atrás de uma persiana, em seu palácio, adivinhando que os comunistas que o depuseram [no golpe de 1974] estão vindo buscá-lo."

Etiópia
Francesca Angiolillo
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Angiolillo diz não saber ao certo por que a poesia lhe pareceu o gênero mais adequado para o resgate dessa memória real e imaginada.

Mas, diz ela, "há uma maneira de estar no mundo e sintetizar a experiência, achando imagens e buscando a beleza ao ouvido, que tem a ver com a poesia".

"Eu vejo uma relação entre a forma como a memória e a poesia funcionam", conclui.

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ETIÓPIA
AUTORA Francesca Angiolillo
EDITORA 7letras
QUANTO R$ 38 (128 págs.)
QUANDO lançamento nesta quarta (18), na livraria Tapera Taperá, av. São Luís, 187, loja 29, 2º andar, tel. (11) 3151-3797


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